Os soluços que vinham do fundo da minha garganta incentivavam as
lágrimas a percorrerem mais uma vez o meu rosto; o silêncio impedia isso. A paz
naquele parque único atravessava até a minha medula no objetivo de me acalmar.
E com sucesso de tal, agachei-me para pegar num monte pequenino da neve gelada.
Queimava-me as mãos, mas não me importei. Honestamente, não era nada comparado
com o que eu deixara de sofrer há pouco mais de onze meses.
Pousei ao de leve os meus lábios sobre a neve pura, e um arrepio
atravessou a minha espinha. Aquilo pôs-me a dar uma pequena gargalhada. Nunca
vira neve na minha vida. Pressionei o montinho, decidida a fazer uma bola
suficientemente dura. Depois preparei-me para a lançar. Dei meia volta com o
corpo, lancei o braço para trás e larguei a bola, atirando-a para bem longe.
Reconheci de imediato o rapaz que se desviou com rapidez da minha
bola de neve. Harry, proferiu a voz
da minha consciência. Se eu não fosse pessoa de pensar duas vezes antes de
agir, teria mais uma vez gritado contra ele e teria dado meia volta para me
afastar de novo. Mas o instinto que raramente me punha a pensar impediu-me de
mover as pernas.
- Não fujas de mim – disse Harry, olhando-me com receio – Por favor.
Respirei com calma, contando até dez. Sete, oito, nove, dez.
- Devo-te uma explicação, eu sei, Bella.
- Tu não me deves nada – cuspi as palavras, cerrando a boca.
Ele deu um passo em frente. Deixei-me estar no sítio onde me
encontrava, a cinco metros dele. Olhei no seu rosto, estudei a sua expressão. E
os seus olhos estavam brilhantes.
Seria eu assim tão fraca ao ponto de quebrar outra vez em frente de
Harry Styles?
Sim, eu era.
As lágrimas criaram festas assim que se viram libertas da minha força
e, mais uma vez no mesmo dia, as minhas pernas enfraqueceram e eu caí na neve.
Ouvi o passo apressado de Harry, a vir na minha direção. Ele pegou em mim e
embalou-me no seu colo. Não consegui olhar para ele de imediato, não me
importando se deveria ou não encostar o rosto ao seu peito. Puxei-o para mim,
como se precisasse do irmãozinho mais velho que nunca tivera. Puxei-o tanto
quanto a minha força limitada o permitiu.
- Schhh – disse ele, numa tentativa de me acalmar. – Não vou a lado
nenhum, Bella. Não te vou abandonar. Prometo, minha Ferrero.
Ficámos assim, durante minutos, provavelmente horas que se estenderam
até ao escurecer. Quando os candeeiros do parque se acenderam, só conseguia
ouvir a respiração calma de Harry e os meus soluços descontrolados. Ele nada
proferiu, até ao momento em que se mexeu ao mesmo tempo que me levantava.
- A temperatura está a descer em flecha. E tenho que te levar a casa.
Não lhe respondi, cansada e fraca. A minha cabeça latejava e o meu
corpo enregelava devido ao frio.
- Bella? – Chamou Harry e eu olhei para ele.
Os seus olhos transbordavam preocupação ao olhar para mim. Levantou
uma mão, pousando na minha maçã do rosto ao dar uma carícia.
- Desculpa – murmurou.
A casa de Harry era enorme. Pior, impossível de descrever. Mesmo
quando já me encontrava sentada numa das seis cadeiras da mesa de jantar, com
uma caneca de chocolate quente nas minhas mãos, ainda tentava encontrar as
palavras certas para conseguir explicar a mim própria a singularidade daquela
habitação. Conseguia ouvir Anne gritar com Harry na cozinha.
- Podes ter a certeza que não fazes mais nenhuma destas, meu menino!
Como foste capaz de fazer uma coisa destas à Bella?
Anne fez uma pausa e Harry não respondeu à pergunta que, francamente,
não consegui perceber se fora retórica ou não.
Subitamente a porta abriu-se e eu dei um pequeno salto. Virei o
pescoço, olhando para Harry, a mãe dele atrás com um sorriso fechado.
- Minha querida, queres comer alguma coisa?
Perguntou com ternura. O seu cabelo preto era curto, o que lhe dava
um ar mais jovem. Sorri-lhe, abanando a cabeça com negatividade.
- Não tenho fome, obrigada. Agradeço também o chocolate quente.
- Estavas gelada e bastante pálida. Não foi nada que eu não pudesse
fazer.
Ouvimos mais uma vez o silêncio, entrecortado pelas nossas
respirações instáveis. Fixei o chão, com medo de encontrar o olhar de Harry.
Sentia estar a incomodá-lo, sem razão nenhuma aparente.
- Vou deixar-vos a sós para falarem – disse Anne, e eu levantei o
olhar para a encarar. Olhou para Harry. – Há muito que tem de ser esclarecido.
Retirou-se, fechando a porta com cuidado. Virei-me de frente para a
mesa, atenta ao chocolate quente. Lentamente levei a caneca à boca, dando um
golo pequeno que me adoçou o paladar. Harry agachou-se ao meu lado.
- Peço-te por tudo que não dês desculpas esfarrapadas acerca do que
fizeram – murmurei com dificuldade.
Ele ia para dizer algo, mas hesitou durante instantes. Olhei-o pelo
canto do olho, porém, não resisti e virei totalmente a cara para ele. O seu rosto
angelical contorcia-se numa expressão de lamento e profundo arrependimento.
- Eu não peço que me perdoes, pois o que fiz foi inadmissível, eu sei
– repetiu as últimas palavras algumas vezes, e eu deixei-o continuar. – Se eu
te explicar…
- O quê?
Os olhos dele estavam demasiado abertos, o que me deixou inquieta.
- Diz, Harry. Diz de uma vez!
- O Louis e o Zayn concordaram que ambos iriam afastar-se, para bem
da banda. O Liam, o Niall e eu não podíamos contrariar os nossos irmãos.
Acredita que me custou mais do que eu pensava deixar de te contactar.
- Porque decidiram isso naquela altura? Porque não decidiram antes?
Comecei a sentir a raiva a crescer algures dentro de mim. Comecei a
sentir toda a mágoa querer ser libertada.
- Porque fizeram isto? – Perguntei mais alto. – Porque é que TU me
fizeste isto, Harry?!
Perdi total controlo da minha voz. Levantei-me calmamente,
afastando-me dele.
- Por acaso, tens alguma noção da falta que vocês me fizeram?
Já não tinha medo se a mãe dele me ouvia ou não. Sentia necessidade
de libertar tudo.
- O Sam perguntou por ti mais do que uma vez ao dia! O Sam, todos os
dias, levantava-se e perguntava se tu tinhas ligado. O Samuel, o meu irmão,
esperou por vocês todos os dias até hoje! Mesmo sabendo que nenhum dos cinco me
falava.
A minha respiração acelerou em pico e eu sentia o rosto a arder. As
minhas mãos tremiam, o coração parecia-me saltar pela boca, esta que se
encontrava seca. Harry olhava para o chão, e eu reparei nalgumas lágrimas que
se formavam nos seus olhos.
- Agora explica-me como lhe vou dizer que o Larry, o Nouis e o Zayna
já cá estão e que nem sequer tiveram a decência de me dizer Olá.
Finalmente a tua voz
parece firme, pensei para comigo mesma, satisfeita com o último remate.
Durante algum tempo, o desejo que nutria em fazê-lo sentir-se culpado
correu-me nas veias fervorosamente. Depois, ao observar o tremor do seu lábio
inferior que ele tanto tentava parar com pequeninas mordidelas, arrependi-me da
brutalidade usada nas minhas palavras. E… senti perdão.
Respirei fundo. Sentei-me no chão, ao lado de Harry. Agarrei
vagarosamente na sua mão.
- Olha para mim – sussurrei.
Ele não hesitou. Os seus olhos azuis estavam brilhantes, as narinas
dilatadas e o cabelo ansiava por se soltar do capuz que ele colocara em algum
momento que eu não notei.
Olhámo-nos mutuamente, num silêncio arrebatador que quase atordoava
os sentidos. E de certa maneira, Harry percebeu que não valia a pena falar
mais. As saudades, só por si só explicavam o quanto fora errado cortar a nossa
relação.
Estendeu os braços, fugando o nariz repetidas vezes – dei uma pequena
gargalhada que aligeirou o ambiente. Gatinhei para o seu colo, gritando
silenciosamente que finalmente as coisas voltariam a ser o que eram. Pelo menos
entre mim e Harry Styles.