- Eu levo a
Bella à radioterapia, não se preocupe Laura. – disse Harry para a minha mãe.
O tempo passou a
uma velocidade descomunal, quando dei por mim a contar os minutos. Zayn voltava
hoje da sua visita aos primos e aos tios de parte de Tricia, algures em
Inglaterra. Ter apenas Harry e Liam a ajudar-me nos tratamentos tornou-se uma
situação de egoísmo, a meu ver. É claro que sempre que eu vinha com a conversa
de que odiava que eles gastassem energia, tempo e dinheiro comigo, Harry
dava-me um tapa leve no queixo e resmungava. Tinham prometido a Zayn que
tomavam conta de mim, mesmo sabendo que a minha mãe era a pessoa mais indicada
para isso.
Nos últimos três
meses a minha vida mudara drasticamente. Algum tempo depois da tarde com
Violeta, a menina cega, e Margarida, a sua irmã, ia regularmente a consultas no
hospital St Thomas, para que Peter (o médico) determinasse com mais certezas a
gravidade da minha doença. Óbvio que era muito
grave. Já me tinha mentalizado disso há algum tempo atrás. E arranjar maneira
de contar à minha mãe e a Sam foi das coisas mais difíceis de planear.
Ainda me lembro
de respirar fundo durante uns segundos, sentir o olhar pesado da minha mãe
sobre mim e o semblante de Sam ao meu lado, aguardando. Para minutos mais tarde
o terror se instalar na nossa casa e o futuro brilhante que me aguardava
tornar-se apenas numa memória perdida. Todos os sonhos que sempre tive, toda a
força e dinâmica que tinham vindo lentamente a brotar de mim, espezinhados pela
maldição do meu pai. O rosto de Laura, afável e preocupado, rapidamente perdera
todo o calor; e não aguentei fingir mais que não tinha medo.
Suspirei,
recordando o dia mais triste da minha vida. O meu lábio tremia enquanto
sustinha a respiração e ouvia Harry conduzir com facilidade. Liam não me
largara a mão desde que tinha entrado no carro e, sinceramente, sentia-me mais
segura. Sempre que Zayn se ausentava, era Liam que tomava conta de mim,
responsabilizando-se com tudo o que um pai tem de ter em conta.
- Como te sentes
hoje, Ferrera? – Perguntou Harry, abrandando a velocidade.
- Cansada, como
sempre – resfoleguei.
O Dr. Peter
preferiu que começasse por fazer radioterapia durante alguns meses, para saber
como reagia o meu corpo aos tratamentos de radiação. Não estava impune aos
efeitos secundários, mas preferia guardar para mim mesma os vómitos e as
náuseas, bem como os hematomas que levava de Sam nas brincadeiras. E,
definitivamente, não planeava contar a Zayn acerca do sangramento de nariz que
tinha vindo a ser vítima nos últimos dias.
- Mais alguns
efeitos secundários? – Questionou Liam, quase como se me lesse os pensamentos.
Cruzei os dedos,
a mão livre escondida debaixo das minhas pernas.
- Felizmente,
não.
Caminhámos até
ao gabinete do Dr. Peter e, pelo caminho, fui cumprimentando as enfermeiras que
já me conheciam como Bella Rosita –
culpa de Niall. Antes de planear umas férias românticas com Marie, o loiro
fizera questão de conversar com metade da equipa médica da Oncologia,
certificando-se que eu seria a utente mais reconhecida daquela ala.
Nunca falhava um
dia de tratamento. Nem mesmo quando me sentia à beira de adormecer na cama e só
acordar dias depois. Lá no fundo desejava que aquele pesadelo acabasse o mais
depressa possível, e, ingénua, acreditava que quanto mais os tratamentos
avançassem, mais depressa eu podia viver normalmente. Porém, a minha
consciência traía-me durante o caminho que percorria pelos corredores do
hospital. À minha memória voltava sempre o primeiro dia de tratamentos com
radioterapia.