Encostámos as nossas testas e notei um
sorriso de alívio no seu rosto.
- Ainda bem, porque eu amo-te.
As minhas mãos apoiaram-se na nuca de
Zayn e concentrei-me ao máximo para conseguir memorizar a sensação. Atentei
cada pormenor do seu rosto – enquanto ele estava distraído – assim sempre que
fechasse os olhos recordá-lo-ia sereno e feliz comigo. E o seu aroma, o seu
cheiro que me embriagava sempre que estava com ele, inalei-o vezes sem conta.
Não teria quaisquer desculpas em não me
recordar de Zayn na sua mais pura essência.
- Desculpem interromper – ouvi
Margarida pigarrear. – A Violeta adorava ouvir o Zayn cantar para ela.
A sua voz transbordava suavidade, mas
eu notei uma pontada de azedume nela. O seu olhar passava de mim para Zayn,
sempre com um sorriso amarelo.
Respirei fundo e afastei-me, puxando
Zayn pela mão até Violeta que brincava com o capitão do clipper. Ela notou a nossa presença e virou-se na nossa direção. Os
seus olhos, grandes e azuis, estavam irrequietos.
Sentámo-nos em roda, esperando por Zayn
lançar a batida e cantar a música Little Things. Eu nunca lhe tinha dito, mas
em certas noites, deitava-me na cama a ouvir repetidamente esta música,
recordando todos os momentos com ele, fossem bons ou maus.
- Your hand fits in mine like it’s made just for me, but bear this in
mind it was meant to be, and I’m joining up the dots with the freckles on your
cheeks and it all makes sense to me… - a voz
de Zayn era baixa e gutural, mas bastante suave.
Ele pegou na minha mão enquanto
cantava, encarou-me com um sorriso nos lábios e eu corei.
Violeta fechou os olhos, balançando
para a frente e para trás, seguindo o ritmo da música. Margarida baixara a
cabeça e notei-lhe um sorriso na cara, também. As duas irmãs começaram a cantar
baixinho com Zayn; o som da água do rio Tamisa a ser rasgada era
incomparavelmente bonito com as vozes dos três. A vontade de cantar também me
contagiou, mas preferi continuar calada.
- I know you’ve never loved the
sound of your voice on tape, you never want to know how much you weigh, you
still have to squeeze into your jeans, but you’re perfect to me… - a voz de Zayn junto ao meu ouvido fez-me arrepiar da cabeça aos pés.
Suspirei demoradamente e fechei os olhos; o vento vinha do sul e incitava-me
os cabelos a disfarçar a minha breve meditação.
A voz de Zayn era demasiado relaxante, fazendo-me voltar atrás no
tempo até ao meu primeiro dia em Londres.
Seria assim tão louco dizer que, apesar do cancro e de todas as
batalhas que terei, não trocaria isto pela minha vida pacata em Portugal? Tenho
a noção que será difícil ultrapassar isto, que muitas vezes me irei sentir
completamente em baixo. Ter apenas a minha mãe e o meu irmão comigo, numa
cidade que ainda me é totalmente desconhecida é assustador, isso posso
garantir. No entanto, sinto-me segura com o apoio dos rapazes e da Marie. Não vai
ser fácil lidar com a luta, e muito menos com a perda do meu cabelo.
Num instinto, toquei nos fios de cabelo que se soltaram do meu rabo-de-cavalo
e apreciei a textura. Perder toda a feminilidade que uma mulher tem começa a
ficar difícil de aceitar.