- Que se passa, Bella? – A sua voz ouviu-se ecoar nas paredes da casa
de banho pequena.
Puxou o cortinado para trás e estremeci com a fria rajada provocada.
Olhei para cima e vi a sua expressão preocupada. Sorri timidamente.
- Não consigo lavar o cabelo e as costas – justifiquei. – Podes
ajudar-me?
A minha voz soava trémula e quase um sussurro.
Ele agarrou no chuveiro, desligou a água e sentou-se no chão. Pegou
no gel de banho e depositou uma noz de gel na esponja. Esfregou um pouco até
criar espuma e começou a esfregar as minhas costas com delicadeza e em
movimentos circulares. Cantarolou uma melodia que eu não reconheci e fechei os
olhos, encostando o meu rosto aos joelhos. Esfregou o meu braço esquerdo com o
máximo cuidado e fez o mesmo com o direito, inclinando-se sobre mim. Largou a
esponja na água antes de pegar no champô e ensaboar o meu cabelo, massajando-me
a cabeça com calma, como se não tivesse pressa.
Eu continuava de olhos fechados, tentando concentrar-me mais na
sensação boa que ele provocava do que na dormência que sentia nas axilas e na
zona do peito. Qualquer movimento que obrigasse a esticar os braços ou a
endireitar as costas era o suficiente para que me sentisse rapidamente cansada
do meu corpo.
Não impedi Zayn de esfregar a minha perna esquerda com a esponja, não
o impedi sequer de me esfregar o corpo todo. Eu estava demasiado cansada para
ripostar ou até para manter os olhos abertos. Não me deixaria adormecer, apenas
precisava de descansar. Harry vinha visitar-nos com Anne e Gemma. A minha mãe
estava animadíssima por preparar o almoço para a família de Harry e Sam também.
Conseguia ouvi-lo da cozinha, os risos de ambos que claramente afirmavam a
felicidade deles. Ainda bem, ver Sam contente era o suficiente para que eu
tentasse não passar metade do dia a dormir.
- Estou tão cansada – sussurrei.
- Eu sei, meu amor – respondeu Zayn no mesmo tom. – Queres descansar
um pouco? Ainda tens tempo antes que Harry chegue.
- Não, não – contrapus, fraca.
Zayn ajudou-me a sair da banheira e enrolou-me na toalha. Enxaguou o
meu cabelo o máximo que conseguiu e quando – já vestida e com os dentes lavados
– me levantei da cadeira, olhei-me ao espero e apeteceu-me chorar.
Eu tinha um aspeto lastimável. A minha pele do rosto tinha um tom
amarelado, os meus olhos estavam baços e as olheiras por baixo deles
evidenciavam-se mais do que nunca.
- Oh, meu deus, que horror – murmurei.
Ele olhou para mim e baixei o olhar. Peguei na maquilhagem, de cabeça
inclinada para baixo e coloquei o máximo de base possível para que parecesse
normal. Apliquei corretor em todas as
mazelas negras e ainda cobri as maçãs do rosto com um pouco de blush rosa
pálido. Já parecia mais saudável e se Harry, Anne ou Gemma nos convidassem para
qualquer lado, não podia esquecer-me de colocar o kit de maquilhagem na mala.
Desci as escadas para comer qualquer coisa, mas estava com uma
sensação de enjoo desde o banho e não me parecia que provar um pouco do bolo de
chocolate da minha mãe fosse boa ideia.
- Bom dia, mãe. Bom dia, Sam.
- Bom dia, querida, dormiste bem? – Perguntou a minha mãe, virando-se
para mim com um sorriso enquanto mexia a panela.
Cheirava bem.
- Sim – menti. Na verdade estou
cansada e quero voltar para a cama.
Sam estava sentado na cadeira alta da bancada, o que o permitia ficar
à minha altura. Ao início aproximei-me dele para lhe dar um abraço, mas Sam
inclinou o rosto e deu-me um beijo na bochecha. Na verdade fora apenas um roçar
dos seus pequenos e grossos lábios, mas bastou para me dar forças e sorrir de
orelha a orelha.
- Come alguma coisa.
- Não tenho fome, estou um pouco enjoada – respondi.
- Tens de te alimentar, Bella. – Resmungou. – Agora que a
quimioterapia vai começar precisas de forças.
Revirei os olhos à minha mãe.
Aqueci água na chaleira e enquanto esperava que ela fervesse
sentei-me na bancada. Apoiei a cabeça com ambas as mãos, sentindo o meu
estômago a dar voltas e mais voltas. Isto não podia ser bom, pensei. Ainda não
tinha comido nada, terá sido uma má indigestão durante a noite?
Antes sequer de ter dito alguma coisa ou ter pensado sequer em beber
o meu chá habitual, a sensação de asfixia e o tempo a recuar atingiu-me bem na
minha barriga e o quer que eu tivesse a vomitar estava prestes a sair. Tudo o
que fiz foi correr até às escadas, tapar a boca e concentrar-me em não dar mais
trabalho de limpezas à minha mãe.