Ela abanou a
cabeça.
- Não é nada
disso, Bella. Sou tua mãe, para mim serás sempre a mais bonita. Mas nem toda a
gente tem a mesma opinião.
- Eu sei disso.
Ela sorriu,
sentando-se à frente da máquina de costura.
- Vai tirar as
roupas, quero tirar-te as medidas – pediu.
Fiz o que me
mandou, mas ao mesmo tempo, por dentro, sentia-me alarmada por Laura descobrir
as cicatrizes. Tinha que pensar numa maneira de ela conseguir tirar as medidas,
sem que me visse as deformações.
Subi até ao
quarto, procurando os minicalções e o soutien desportivo. Era a única maneira
que eu tinha de tapar por completo as queimaduras. No entanto, fui até à casa
de banho, certificar-me que não se viam.
Olhei para o
espelho, primeiro para a zona do peito. Senti alívio ao perceber que as
cicatrizes estavam todas tapadas com o soutien preto. Era completamente direito
e um pouco comprido, por não ter arame. De seguida, baixei o olhar para a zona
íntima. Mais uma vez, as cicatrizes estavam tapadas. Mesmo que a maior parte
delas, nesta zona, se encontravam marcadas nos lábios vaginais, o meu pai fez
questão de me marcar também na zona das virilhas.
Ainda sentia
repugnância dele por me ter feito aquilo, principalmente naquela zona.
Desci até à
sala e coloquei-me à frente da minha mãe. Ela levantou-se, com a fita métrica
na mão, e eu tremi. Eu pensava ter a certeza de que as cicatrizes não se viam,
mas temia que Laura desviasse o soutien ou o subisse um pouco mais.
O que acabou
precisamente por acontecer.
Deus, por favor, que ela não repare em nada.
Mais uma vez,
Deus ouviu-me e eu agradeci em silêncio.
- Sempre
tiveste medidas perfeitas – comentou ela, a sorrir.
- Todos os dias
agradeço a Deus por isso. Sei bem que existem raparigas a invejar-me. E também
sei que passam maus bocados por isso.
- São demasiado
melodramáticas, essas raparigas. Só não são magras porque não querem.
Semicerrei os
olhos, não acreditando no que tinha saído da boca da minha própria mãe.
- Não fales do
que não sabes, Laura.
- E quem és tu
para falar, Isabela? Que eu saiba, nunca te vi confraternizar com uma rapariga.
Por vezes eu
nem queria aceitar como conseguia a minha mãe tornar-se noutra pessoa, adotar
outra personalidade. Muitas vezes conseguia ser fria, meticulosa e indiferente
em relação ao que eu e o meu irmão sentíamos. Mal se apercebeu do que dissera e
de como me tinha afetado, levantou-se, levando a mão à boca.
- Oh Bella…
desculpa, filha – começou por dizer, mas eu levei uma mão ao ar, recuando.
- Nem vale a
pena – pronunciei.
Subi as
escadas, ansiando por um cigarro. Já nem me importava com o que iria ela dizer
por eu fumar dentro do quarto. Precisava de me acalmar e a única maneira de
também não descarregar depois em cima de Sam, era fumando.
Como tinha sido
ela capaz de dizer aquilo? Eu podia não ter amigas, mas sabia como se sentiam
as raparigas quando não eram bonitas aos olhos da sociedade. Por mais incrível
que possa parecer, havia alturas em que eu me sentia assim. Às vezes só o facto
de experimentar uma peça de roupa, e não nos ficar bem, consegue baixar a nossa
autoestima como uma flecha em queda. Porém, preferia isso a ser uma rapariga
convencida que se vangloriava do seu corpo invejável.
Puxei dois
bafos seguidos no cigarro, exasperei depois o fumo e senti os músculos do corpo
relaxar. O telemóvel vibrou, em cima da secretária e eu peguei nele. Era Louis.
- Olá de novo,
Louis – cumprimentei, depois de atender.
“Ainda estás com Zayn?”, Perguntou.
- Não, estou em
casa, porquê?
“Vou aí ter, tenho uma coisa para te dar”.
Ouvi-o rir-se e
desligar a chamada. Aquilo aborreceu-me, pois detestava quando desligavam as
chamadas sem se despedirem.
Troquei os
calções e o soutien desportivo por umas calças de fato de treino e uma t-shirt
de tamanho XL, com a imagem da capa do CD do Ed Sheeran, +.
Desci as
escadas e sentei-me no sofá, esperando.
Não muito tempo
depois, tocaram à campainha. Laura levantou-se e eu também.
- Não é
preciso, eu vou lá – disse-lhe com arrogância.
Apesar de saber
que não devia falar assim para a minha mãe, eu tinha razões para tal. E ela
sabia disso.
Abri a porta e
sorri para Louis. Este sorriu-me de volta, pegando-me ao colo e dando uma
volta.
- Tanto
entusiasmo para quê? – Perguntei entre risos.
Louis pousou-me
no chão, mas pegou na minha mão e obrigou-me a rodopiar. De repente, colocou o
braço à volta da minha cintura e inclinou-me para trás.
- Para que
Afrodite saiba que o seu Ares irá estar presente na festa – murmurou, quase
beijando-me. Voltou a pôr-me de pé.
- Eu não
acredito que a Marie te disse – reclamei, levando a mão à testa. – Como é que
conseguiste saber?
Louis riu.
- A única coisa
que a fazia ceder era revelando quem será Niall. Aquela rapariga está
completamente apaixonada por ele. E ele por ela, mas não o admite.
Mostrei-me
estar aborrecida. Teria que ter uma conversa com Marie.
- Louis… -
murmurei, lembrando-me do que ele dissera. – O que queres dizer com… o meu Ares?