sexta-feira, 30 de novembro de 2012

New Begginning - Capítulo 74


Ela abanou a cabeça.
- Não é nada disso, Bella. Sou tua mãe, para mim serás sempre a mais bonita. Mas nem toda a gente tem a mesma opinião.
- Eu sei disso.
Ela sorriu, sentando-se à frente da máquina de costura.
- Vai tirar as roupas, quero tirar-te as medidas – pediu.
Fiz o que me mandou, mas ao mesmo tempo, por dentro, sentia-me alarmada por Laura descobrir as cicatrizes. Tinha que pensar numa maneira de ela conseguir tirar as medidas, sem que me visse as deformações.
Subi até ao quarto, procurando os minicalções e o soutien desportivo. Era a única maneira que eu tinha de tapar por completo as queimaduras. No entanto, fui até à casa de banho, certificar-me que não se viam.
Olhei para o espelho, primeiro para a zona do peito. Senti alívio ao perceber que as cicatrizes estavam todas tapadas com o soutien preto. Era completamente direito e um pouco comprido, por não ter arame. De seguida, baixei o olhar para a zona íntima. Mais uma vez, as cicatrizes estavam tapadas. Mesmo que a maior parte delas, nesta zona, se encontravam marcadas nos lábios vaginais, o meu pai fez questão de me marcar também na zona das virilhas.
Ainda sentia repugnância dele por me ter feito aquilo, principalmente naquela zona.
Desci até à sala e coloquei-me à frente da minha mãe. Ela levantou-se, com a fita métrica na mão, e eu tremi. Eu pensava ter a certeza de que as cicatrizes não se viam, mas temia que Laura desviasse o soutien ou o subisse um pouco mais.
O que acabou precisamente por acontecer.
Deus, por favor, que ela não repare em nada.
Mais uma vez, Deus ouviu-me e eu agradeci em silêncio.
- Sempre tiveste medidas perfeitas – comentou ela, a sorrir.
- Todos os dias agradeço a Deus por isso. Sei bem que existem raparigas a invejar-me. E também sei que passam maus bocados por isso.
- São demasiado melodramáticas, essas raparigas. Só não são magras porque não querem.
Semicerrei os olhos, não acreditando no que tinha saído da boca da minha própria mãe.
- Não fales do que não sabes, Laura.
- E quem és tu para falar, Isabela? Que eu saiba, nunca te vi confraternizar com uma rapariga.
Por vezes eu nem queria aceitar como conseguia a minha mãe tornar-se noutra pessoa, adotar outra personalidade. Muitas vezes conseguia ser fria, meticulosa e indiferente em relação ao que eu e o meu irmão sentíamos. Mal se apercebeu do que dissera e de como me tinha afetado, levantou-se, levando a mão à boca.
- Oh Bella… desculpa, filha – começou por dizer, mas eu levei uma mão ao ar, recuando.
- Nem vale a pena – pronunciei.
Subi as escadas, ansiando por um cigarro. Já nem me importava com o que iria ela dizer por eu fumar dentro do quarto. Precisava de me acalmar e a única maneira de também não descarregar depois em cima de Sam, era fumando.
Como tinha sido ela capaz de dizer aquilo? Eu podia não ter amigas, mas sabia como se sentiam as raparigas quando não eram bonitas aos olhos da sociedade. Por mais incrível que possa parecer, havia alturas em que eu me sentia assim. Às vezes só o facto de experimentar uma peça de roupa, e não nos ficar bem, consegue baixar a nossa autoestima como uma flecha em queda. Porém, preferia isso a ser uma rapariga convencida que se vangloriava do seu corpo invejável.
Puxei dois bafos seguidos no cigarro, exasperei depois o fumo e senti os músculos do corpo relaxar. O telemóvel vibrou, em cima da secretária e eu peguei nele. Era Louis.
- Olá de novo, Louis – cumprimentei, depois de atender.
Ainda estás com Zayn?”, Perguntou.
- Não, estou em casa, porquê?
Vou aí ter, tenho uma coisa para te dar”.
Ouvi-o rir-se e desligar a chamada. Aquilo aborreceu-me, pois detestava quando desligavam as chamadas sem se despedirem.
Troquei os calções e o soutien desportivo por umas calças de fato de treino e uma t-shirt de tamanho XL, com a imagem da capa do CD do Ed Sheeran, +.
Desci as escadas e sentei-me no sofá, esperando.
Não muito tempo depois, tocaram à campainha. Laura levantou-se e eu também.
- Não é preciso, eu vou lá – disse-lhe com arrogância.
Apesar de saber que não devia falar assim para a minha mãe, eu tinha razões para tal. E ela sabia disso.
Abri a porta e sorri para Louis. Este sorriu-me de volta, pegando-me ao colo e dando uma volta.
- Tanto entusiasmo para quê? – Perguntei entre risos.
Louis pousou-me no chão, mas pegou na minha mão e obrigou-me a rodopiar. De repente, colocou o braço à volta da minha cintura e inclinou-me para trás.
- Para que Afrodite saiba que o seu Ares irá estar presente na festa – murmurou, quase beijando-me. Voltou a pôr-me de pé.
- Eu não acredito que a Marie te disse – reclamei, levando a mão à testa. – Como é que conseguiste saber?
Louis riu.
- A única coisa que a fazia ceder era revelando quem será Niall. Aquela rapariga está completamente apaixonada por ele. E ele por ela, mas não o admite.
Mostrei-me estar aborrecida. Teria que ter uma conversa com Marie.
- Louis… - murmurei, lembrando-me do que ele dissera. – O que queres dizer com… o meu Ares?

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

New Begginning - Capítulo 73

- O que estamos aqui a fazer? – Perguntei, quando depois de sairmos da loja da Cindy, ele conduziu até a uma loja de máscaras, com a montra preenchida de máscaras de lobisomens e chapéus de bruxa. – Não estás a pensar levar uns dentes de vampiro para a festa, pois não?
Zayn olhou para mim, ressentido.
- Esta loja não tem apenas o que mostra na montra. Acredita que eles vendem muitos trajes de diferentes épocas. Incluindo a Antiguidade.
Surpreendi-me, vendo que Zayn tinha razão. Dentro da loja, era um cosmos de diversas eras da História. Eles vendiam inclusive máscaras dos Homens das Cavernas. A primeira coisa que eu precisava que me veio à cabeça, foi uma coroa física de folhas de hera; em todos os filmes que retratavam a Antiguidade, tanto os deuses como os mortais de família real, tinham uma. Impedindo-me de pensar que era impossível eles terem essas grinaldas, Zayn apareceu à minha frente, agarrando uma em cada mão, sorrindo de orelha a orelha.
- Iremos parecer verdadeiros deuses com isto – disse ele.
- Qual é que é a minha? – Perguntei.
Ele apontou para a coroa revestida de folhas verde tropa. Nada a ver com Afrodite.
- É que nem penses, Zayn – reclamei.
Ele levou-me até à zona da loja onde tinha visto as grinaldas, encantando-me com os distintos objetos que relembravam a época antes de Cristo. Consegui contar várias tiaras de diferentes cores e tamanhos e distintos broches de diversas grandezas, entre outras coisas. Reparei numa coroa física com as folhas de hera revestidas de tinta dourada. Era a única, mas também era a mais cara. Sentindo uma pontada de tristeza, larguei-a, voltando toda a minha atenção para os broches.
- Não sei que escolher – confessei.
Zayn procurava comigo dois pares de broches iguais, mas sempre que encontrávamos um bonito – e eu pensava que era merecedor de Afrodite – nunca conseguíamos encontrar o outro par.
- Desisto. Não há nenhum que seja o indicado – suspirei. – A minha mãe haverá de encontrar uma solução.
Esperei, ao pé do carro por Zayn, enquanto este pagava a grinalda que escolhera. Após entrarmos dentro do Lamborghini, Zayn tirou do saco a coroa que me tinha encantado.
- Vi-te mirá-la. Quando vi o preço, percebi porque não me disseste que a querias. – Explicou-me ele.
O sorriso que se formou no meu rosto não desaparecia, mesmo que eu quisesse. O que ele tinha feito era de extrema bondade.
- Não sei que dizer, Zayn – Confessei.
- Promete-me que a usas.
Olhei para ele.
- Porquê? – Murmurei.
Zayn aproximou-se, pegou na grinalda e colocou-a em cima da minha cabeça, desajeitadamente.
- Irei reconhecer-te a partir dela. De alguma maneira eu tenho de saber quem serás.
Baixei o olhar, corando.
No segundo a seguir, um paparazzi apareceu, começando a tirar fotos sem parar.
- Eu devia ter previsto – murmurou Zayn, furioso.
Depressa meteu o carro em funcionamento, fazendo marcha atrás tão rápido que eu temi que perdesse o controlo do volante. O fotógrafo perdeu-nos o rasto, e Zayn levou-me a casa. Guardei a grinalda, enternecida com o gesto dele.
- Não te esqueças – disse-me, à porta de minha casa. – Usa a coroa.
Os seus olhos brilhavam, e ele acariciou-me o rosto. Depois passou o dedo pelos meus lábios, lambendo os dele.
- Só assim irei reconhecer-te – sussurrou e logo deu-me um beijo.
Para variar, senti os joelhos tremerem e a minha cabeça andar à roda. Perdi a noção do tempo e do espaço, mas Zayn afastou-se. Agarrou na minha cintura, impedindo que eu caísse com o desequilíbrio. Sorriu, satisfeito.
- Ainda bem que provoco esse efeito em ti. Mas não posso ficar.
Depois meteu-se no carro e retirou-se.
Tive que me encostar à parede, ainda me sentindo zonza. Alguns segundos depois entrei em casa, para receber um entusiástico Sam. Cumprimentei Laura, mostrando-lhe a grinalda e o tecido que escolhera para a vestimenta.
- Ainda não me disseste quem serás – observou ela, estudando o tecido e dirigindo-se à mesa de costura.
A minha mãe para além de pasteleira, também tinha dotes divinos de costureira. No entanto, nunca precisei dos afazeres dela, até porque a maior parte das roupas de que eu gostava nada tinham a ver com o que ela fazia.
- Serei Afrodite.
Laura olhou para mim, admirada. Preocupei-me quando ela não respondeu durante uma eternidade.
- Tens a certeza? – Perguntou.
O que me irritou não foi a sua surpresa após eu ter dito quem iria interpretar; foi mesmo a sua dúvida perante se eu era suficientemente bonita para ser a deusa do Amor.
- Mais vale dizeres de uma vez que não sou apta para tal – respondi.

New Begginning - Capítulo 72


À primeira vista, a “Cindy’s Place” não parecia ser um grande espaço. Mas quando entravas, era um mundo de cores e de diferentes texturas de tecido. Eu seguia Zayn para todo o lado, enquanto ele procurava não sabia eu o quê, e provavelmente, ele também não. Pelo menos ele tinha a pequena noção de como eram as vestes dos mortais, na Antiguidade.
Até agora tinha escolhido dois metros de um tecido branco e suave, e dois broches redondos com uma árvore desenhada, cada um, na parte que ficava à vista.
- Continuo sem saber quem serás – admiti, enquanto passávamos a mão pelos tecidos pretos, numa parte da loja que estava deserta.
- Tu também não me dizes quem serás – respondeu ele.
Dei uma risadinha.
- E como eu não revelarei a ninguém que deusa representarei, irás apanhar uma surpresa. Se me reconheceres – pisquei o olho.
Ele sorriu e desviou o olhar para o lado, mostrando frustração.
Não me contive e comecei a rir, contente por saber que o punha confuso. Era uma diversão para mim.
- És tão má – sussurrou Zayn, pegando-me no rosto e empurrando-me contra a parede de tecidos.
Eu sabia que ele me ia beijar.
- Não faças isso – murmurei.
Zayn exasperou o ar, insatisfeito.
- Já é a segunda vez que dizes o mesmo. Se disseres uma terceira, nunca mais provarás o sabor dos meus lábios.
- Não consegues resistir-me, Zayn Malik.
O som da minha voz saiu melhor do que eu esperava, transmitindo sensualidade. Ele revirou os olhos e afastou-se, desaparecendo na esquina dos tecidos cinzentos. Enruguei a testa, questionando-me se ele seria capaz de me deixar sozinha. Corri para o procurar.
- Já não escolheste o tecido para o teu traje? – Perguntei, vendo-o de novo ao pé dos tecidos brancos.
- Não é para mim, é para ti.
Tirei-lhe o gorro OBEY que escondia o seu cabelo e ele olhou-me, furibundo.
- Dá-me o gorro – pediu.
- Não.
O cabelo de Zayn estava despenteado, algo que eu nunca vira. Tive que conter o riso, senão ele passava-se comigo. Mas… já não estava isso a acontecer?
- Bella – anuiu ele, fechando os olhos com força. – Isto não é nenhuma brincadeira. Dá-me o gorro, se faz favor.
Fiz o que me pediu.
- Eu não preciso que vocês me paguem as coisas, entendes? Com o Louis foi a mesma coisa. Vocês pensam que não tenho dinheiro?
- Vou arriscar e dizer que neste momento não tens nenhuma nota na carteira, nem mesmo uma libra. Estou errado? – Baixei a cabeça, dando-lhe razão. – Bem me parecia que não. Se decidisses ir amanhã com a tua mãe arranjar os materiais, ela não teria tempo de te criar o fato. Portanto, deixa-me ajudar-te.
Zayn suspirou.
- Quem quer que seja a deusa que serás… - olhei de novo para ele. Os seus olhos estavam brilhantes. – Tu já és uma, mas não será a mesma coisa se não fores à festa.
Levantou a mão e colocou uma madeixa de cabelo atrás da minha orelha, enquanto percorria o olhar pelo meu rosto. Nunca vira o olhar de Zayn tão afetuoso quanto estava a contemplar naquele momento. Expressei um sorriso envergonhado.
- Vou precisar da sua ajuda, senhor Malik. A deusa que serei requer trabalho.
Ele sorriu. Rodeou-me num abraço que eu desejei ter sido eterno, mas depois largou-me e voltou toda a sua atenção para a diferença entre o tecido cor de cal e o tecido branco sujo.
Afrodite era a deusa do Amor, e considerada por todos, sem exclusões de partes, a divindade mais linda do Olimpo. Não sei o que me fez aceitar essa escolha para interpretar na festa temática, mas agora não podia ir atrás nessa decisão. Teria que encontrar o tecido que mais se identificaria com o requinte da deusa.
Na loja da Cindy havia diferentes tipos de brancos, mas nenhum que me parecesse suficientemente bonito para que eu interpretasse Afrodite.
- Não há nenhum de que gostes? – Perguntou Zayn.
Abanei a cabeça, negando.
- Nenhum é do meu agrado.
Fui dando algumas voltas pela loja, tentando ver se descobria outro tecido branco noutra parte. Quando passei pela porta que dava para as traseiras, reparei num tecido que se escondia atrás dos tons vermelhos.
É este, pensei, mal vi os reflexos pérola que se exibiam sempre que me movimentava para a esquerda ou para a direita. Tentei tirar o cilindro, mas era demasiado pesado. Zayn apareceu de repente, pegando nele sem qualquer esforço.
- És tão fraquinha – murmurou, troçando de mim.
Atirei a língua fora, aborrecida. Segui-o até à senhora que cortava os metros que precisávamos, e quando ele disse que um metro e meio devia chegar e sobrar, senti-me ainda mais ofendida.
- Corte dois metros, por favor – apressei-me a pedir.
Enquanto esperávamos na fila, mexi nas caixas dos botões e dos broches, procurando algo que me agradava. No entanto não encontrei nada que pudesse prender o tecido nos meus ombros, tal e qual como eu vi uma vez, nas vestimentas das mulheres no filme O Gladiador.

terça-feira, 27 de novembro de 2012

New Begginning - Capítulo 71


Marie deu uma risadinha e depois trincou o lábio.
- O tal organizador que eu conheço tem um fraquinho por mim, e todos os anos eu peço-lhe que me dê um convite. Não foi difícil pedir-lhe mais seis.
Louis uivou.
- Ele deve mesmo gostar de ti…
Marie revirou os olhos.
- Agora é assim, eu preciso que me digam qual o deus ou o semideus que irão escolher, pelo menos até amanhã. Senão as outras pessoas que irão, roubam-vos a personagem mítica… - ela deu outra risadinha.
- Eu já escolhi – anunciou Niall, levantando-se. – Mas agora vou comer.
Suspirei, pensando qual deusa iria eu escolher. A verdade é que não me lembrava de quase nada da mitologia grega. Só os doze deuses principais e mais uns quantos. Sobre semideuses, só me lembrava relativamente de Héracles e Teseu. Porque não me recordo de haver semideusas conhecidas ou com uma grande lenda.
Os rapazes levantaram-se. Zayn olhou para mim uma última vez e começou a falar animadamente com Liam e Louis sobre os três deuses, Zeus, Posídon e Hades. Harry continuava sentado, perdido nos seus pensamentos.
- Marie – chamei-a, puxando-a para longe deles. – Nós temos que te dizer quem iremos personificar, certo?
Ela acenou que sim, sorrindo.
- Então irás saber quem irá interpretar quem, certo?
- Acho que sim – deu uma gargalhada. – Mas porquê? Não sabes mesmo que deusa poderás representar?
Sorri de frustração.
- A verdade é que só me lembro de Afrodite e Perséfone.
Marie agarrou no meu rosto e fez questão de mostrar que me avaliava bem. Depois murmurou de maneira a que só eu pudesse ouvir.
- Davas uma ótima Afrodite, minha bela.
- Não digas parvoíces, Marie, não sou digna de interpretar a deusa do Amor.
No entanto, sentia-me corar só com o que ela afirmara.
- Bella, qualquer rapariga poderia fazer de Afrodite. Porque o conceito de beleza é muito relativo, e todas nós somos lindas. De uma maneira ou de outra. – Deitou a língua fora.
Fechei os olhos, rindo do que ela dissera. Depois voltei a olhar para Marie.
- Pessoas como tu fazem deste mundo um sítio melhor onde se viver. Tudo o que disseste é verdade, mas é pena que nem toda a gente pense assim.
Ela deu-me um beijo ténue no rosto.
- Está decidido. Serás Afrodite.
Por voltas das cinco da tarde, já todos tinham decidido quem iriam interpretar na festa temática. Niall era o mais entusiasmado de todos, provavelmente porque deveria saber como iria Marie. Eu tinha a certeza de que eles iriam interpretar um casal de deuses apaixonados. Ou talvez Helena de Troia e Páris. Conquanto, Niall daria um bom Apolo.
Enquanto todos conversavam na sala, vim até ao corredor, ligar à minha mãe e explicar a ideia. Durante um bom bocado tentei aclarar o conceito da ideia, mas no final Laura conseguiu entender.
- O que estás aqui a fazer? – Perguntou alguém atrás de mim. Era Zayn.
- Estava a explicar à minha mãe o que Marie nos disse.
Olhei para o telemóvel. A foto de Louis continuava lá.
Zayn aproximou-se de mim e eu recuei, embatendo contra a parede.
- E se fosse um segredo só nosso quem tu irás interpretar? – Perguntou, encostando o seu corpo no meu e a olhar os meus lábios.
Engoli em seco.
- É suposto as pessoas irem em anonimato – murmurei, sentindo a garganta seca. – E eu não te digo que deusa serei, porque creio que tu também não me dirias.
- Com que então serás uma deusa… – sussurrou, sorrindo perversamente.
No entanto, os seus olhos não transmitiam qualquer fome carnal, apenas algo que me pareceu ternura.
- Vou agora a umas lojas comprar os materiais que preciso para a máscara. Queres vir? – Convidou-me.
Eu sabia que seria suspeito só irmos os dois, mas não queria perder aquela oportunidade por nada.
- Está bem. Talvez eu consiga perceber quem serás tu. – Pisquei o olho, saindo do casulo que os seus braços formaram à minha volta.
Zayn falou aos rapazes o que íamos fazer, e Harry lançou-me um olhar reprovador, fazendo-me sentir culpada.
Entrámos no seu Lamborghini, para que de imediato nos puséssemos em andamento. A maior parte do tempo entreolhávamo-nos como duas crianças que tinham acabado de dar um beijo, e estavam ambas demasiado envergonhadas para falar. Eu desconhecia para onde estava Zayn a levar-me, mas sabia que ele precisava mesmo de materiais para a vestimenta, então não fiz perguntas e esperei até que parássemos.
Quando ele estacionou o carro, à frente de uma loja de costura, toda a minha esperança de ele poder interpretar Ares, tinham ido pelo cano abaixo.
- Confesso que agora é que não tenho nenhuma ideia de quem poderás personificar – falei.
Ele abriu a porta do Lamborghini, saiu e eu fiz o mesmo.
- Não te preocupes – disse ele, enquanto nos dirigíamos para a loja.
Depois parou à frente da mesma, aproximou-se de mim e olhou bem nos meus olhos.
- Na altura saberás quem eu serei. – Sorriu enviesadamente. – Só não te esqueças da cor dos meus olhos e da feição dos meus lábios.
- Nunca – proferi inconscientemente.
Ele deu uma gargalhada e entrou na loja.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

New Begginning - Capítulo 70


- Hey, Booboo… - chamou Harry com uma voz aprazível. – Eu também não consigo fazer o rugido do tiranossauro e não tem problema. Tenho a certeza que consegues fazer os rugidos da maioria dos dinossauros.
Sam continuou de cabeça cabisbaixa e Harry pôs a mão por baixo da cara do meu irmão, de maneira a que ele a visse sem qualquer dificuldade.
- Olha que eu te faço cócegas… - murmurou Harry. – E a tua irmã sabe que os meus ataques de cócegas são dos piores que há.
Sam sorriu e começou a afastar-se lentamente de Harry.
- Não penses que escapas! – Disse Harry, indo atrás do meu irmão. Agarrou-o, levantou-o no ar e deu uma volta.
Não pude deixar de rir, porque Sam nunca brincara com ninguém a não ser comigo e com a minha mãe. E vê-lo assim, feliz, era uma cena que absolutamente não ia esquecer.
- Sente-te honrado, porque eu nunca vi o meu irmão sorrir tanto assim com outra pessoa para além da minha mãe ou de mim. – Falei, enquanto Harry dirigia o carro até à casa de Niall.
- O teu irmão é uma criança muito especial.
Enquanto ia observando pela janela as ruas e os edifícios que passavam a alta velocidade por nós, Zayn veio de encontro ao meu pensamento. Ainda me custava acreditar que ele podia sentir o mesmo que eu. Tinha tantas questões na minha cabeça e nada de respostas a nenhuma delas. Não conseguia entender por que razão não acabava ele com a Perrie e avançava. Quer dizer, eu estava pronta para lhe dar o que ela dá. E eu sabia que eu era o suficiente, senão ele não teria dito o que me disse antes de ir embora.
- Chegámos – anunciou Harry.
Niall recebeu-nos de braços abertos e com um sorriso enorme.
Levou-nos até à sua sala de estar, onde se encontravam lá todos. Por dentro, descobria-me extremamente nervosa por ter que agir como se estivesse tudo normal com Zayn. Dito isto, a primeira pessoa com quem travei olhar, foi mesmo ele.
Encontrava-se sentado na poltrona, a olhar para mim de cima a baixo. Desviei o olhar, vendo Liam sentado no sofá e Louis ao seu lado. Depois olhei para o lado direito, vendo Marie em pé, em frente à lareira. Veio ter comigo, dando-me um abraço que me surpreendeu.
- Finalmente chegaram, Bella – disse ela, entusiasticamente.
Gaguejei um pouco.
- Desculpa o atraso. Sei que tens algo a anunciar, não é?
Marie estava vestida com uns skinny jeans, que exibiam as curvas da sua fina anca e uma camisola folgada que lhe dava um ar requintado. Usava também um cachecol preto.
- Vais adorar o que tenho a dizer Bella.
- Mas é alguma coisa assim mesmo importante? Estarmos todos reunidos, só poderá ser para uma coisa em grande. – Comentei e ela deu uma risada.
- Já vais ver.
Harry sentou-se ao lado de Louis e eu segui-o, fazendo com que eles abrissem um espacinho para mim. Louis fixou-me.
- Olá – disse ele.
- Olá – cumprimentei com um sorriso.
Niall sentou-se no braço da poltrona onde estava Zayn e sorriu para Marie.
- Diz-lhes – incitou para ela.
Marie parecia uma criança tímida. Notava-se que ela estava mesmo entusiasmada com o que nos ia anunciar.
- Está bem, então é assim – começou por dizer, e os rapazes calaram-se, atentos à voz de Marie. – Toda a gente sabe que o Halloween é daqui a dois dias, e eu peço desculpa por só agora estar a convidar-vos, mas não consegui ter a confirmação até hoje de manhã.
- O que é? – Perguntou Liam.
Marie sorriu, entusiasmada.
- Vai haver uma festa temática, mas privada, em Londres. Eu conheço um dos organizadores e ele disse-me que a festa, por ser um evento onde as pessoas irão em anonimato, é completamente restrita.
- Explica-te melhor, Marie, não te estou a conseguir acompanhar – pedi.
Ela suspirou, olhando para o chão a tentar encontrar outras palavras.
- Só vai a esta festa quem receber convite direto. Percebem?
Todos acenaram que sim, incluindo eu.
- Eu pensei que vocês iriam gostar de ir, porque é completamente diferente de tudo a que vocês já foram. – Disse ela, sorrindo timidamente.
- Amor, eles vão gostar, diz de uma vez! – Pediu Niall. A forma como ele tratou Marie apanhou-me de surpresa.
De certeza que eles tinham algo. Involuntariamente expressei um sorriso, olhando furtivamente para ela.
- A temática da festa é a Antiguidade. Nomeadamente, Grécia Antiga.
Os rapazes começaram com um enorme alarido sobre aquilo. Espantou-me ver o Liam com os olhos bastante abertos e a falar com Louis sobre como deveriam ir vestidos.
- É suposto irmos trajados como as pessoas dessa altura? – Perguntou Harry.
- Não é bem assim – retorquiu Marie. – É suposto ser uma espécie de encontro entre deuses e semideuses. Eu sei, eu sei… pode parecer foleiro, mas acreditem que eu já fui a uma destas festas e é das coisas mais inimagináveis possíveis!
- Vamos supor que eu decido ir de Zeus – disse Zayn. – Corria o risco de aparecer outro Zeus. Não seria um pouco mau?
Marie acenou com a cabeça.
- A organização para evitar isso notifica todos os convidados de avisarem previamente sobre quem irão interpretar. Eles têm um trabalho bastante exaustivo, porque têm de saber a máscara de toda a gente. Por isso é que é uma festa temática privada.
- Eu ainda não percebi uma coisa – disse-lhe. – Se é privada, e só vai quem tem convite, como é que nos vais fazer entrar?

New Begginning - Capítulo 69


Só o facto de Harry crer que eu nunca usaria o meu irmão para proveito próprio, fazia-me querer chorar. Mas não de dor. Pôr-me-ia a chorar de contentamento porque eu não me lembrava de ninguém que acreditasse que eu amava mais o meu irmão que à minha própria mãe. De certo modo, eu conseguia ver que Harry testemunhava isso.
- Obrigada, encaracolado. – Sussurrei com honestidade. – Maldita a hora em que vocês vão estar ausentes.
Harry deu uma risada.
- Não te preocupes, porque nós voltamos.
Tinha o pé dormente, então mudei de posição, dando acidentalmente uma cotovelada no estômago de Harry. Ambos nos rimos, depois de ele se queixar veemente de dor.
- Lembras-te da Marie? – Perguntou, enquanto fazíamos concha.
- Claro que me lembro, porquê?
- Eu ia a caminho da casa do Niall, porque os rapazes estão lá todos reunidos. Ela tem um convite a fazer a todos nós.
Arqueei uma sobrancelha.
- Sim, e pretendes fazer-me ciúmes ou…?
Harry deu uma gargalhada.
- És mesmo tola. Quando eu digo a todos nós, tu também estás incluída!
Começou a fazer-me cócegas, um ataque que me deixava sempre vulnerável.
- Ok, já percebi, podes parar! – Pedi, quase sem ar nos pulmões. – Eu saio da cama, mas para Harry, por favor!
Ele assim o fez, puxando os lençóis para trás. Como o habitual, uma corrente de vento frio fez-se sentir, causando-me pele de galinha nos braços e nas pernas.
- Vais imediatamente tomar um banho e vestir outra roupa. Quero-te pronta em menos de dez minutos, Isabela Ferrera.
Comecei a rir, levantando-me da cama e colocando-me em frente a ele.
- Ferreira, Harry! E dez minutos não dá nem para tomar banho, portanto, não penses que ficarei pronta, nem mesmo, em meia hora.
Dito isto, atirei o cabelo para trás e empinei o nariz, dirigindo-me à casa de banho. Fechei a porta, à chave, e verdade seja dita, eu estava ansiosa para o que seria que Marie nos iria convidar. Então atirei o pijama ao chão e enfiei-me dentro da banheira. Com o que eu não contava, era com o tempo perdido de a água fria tornar-se quente. Senti a água chegar-se aos meus pés, o que me arrepiou o corpo todo, inclusive, deixando-me a tremer de frio.
Depois do banho, sequei o cabelo, pois iria para o quarto de toalha, mas não era capaz de ir com uma carapuça na cabeça.
Cheguei ao quarto e Harry virou-se para mim, ficando todo atrapalhado. Logo assumiu uma postura como se fosse habitual ver uma rapariga só de toalha, no entanto, ficou a olhar para mim, pensativo.
- Estás a tentar seduzir-me, deixar-me completamente atrapalhado? – Perguntou.
Até percebia o seu lado; à primeira vista, pensava-se que a minha intenção seria provocar em Harry sentimentos pouco inocentes. Mas não era disso que se tratava.
- Em primeiro lugar, Harry, é completamente normal uma pessoa estar de toalha depois do banho. Se eu não estivesse, aí sim terias que te preocupar com as minhas intenções. Em segundo lugar, se eu quisesse seduzir-te, não estaríamos a ter uma conversa neste momento. Concluindo, não, não estou a tentar seduzir-te. – Depois trinquei o lábio. – Mas se te deixo atrapalhado, podes sair.
Ele digeriu toda a informação durante alguns segundos.
- Queres dizer que se eu agisse com normalidade, podia ficar aqui enquanto… te vestias?
Lancei a mão à testa, lamentando o facto de ele não me ter percebido. Depois suspirei.
- Mesmo se tivesses agido com normalidade, eu expulsar-te-ia do quarto com um pontapé no rabo!
Empurrei-o até ao corredor, para depois mostrar-lhe a língua fora e fechar a porta.
O outfit que escolhi, a meu ver, era completamente casual. Vesti as leggings pretas e calcei as botas brancas com pelo cinzento. Até ter escolhido a camisola de manga comprida verde tropa, foi um caos autêntico, porque as camisolas que se encontravam no meu armário, não me pareciam bonitas o suficiente.
Fui até à casa de banho, notando que Harry não estava no corredor. Tal como em todos os dias, antes de sair de casa, tapei as olheiras com o corretor. Não me apeteceu utilizar muito mais maquilhagem, apenas equilibrando a cor da minha pele que se encontrava rosada nas maçãs do rosto. Após espalhar a base até mesmo ao pescoço, passei mais uma vez pelo quarto. Verifiquei se tinha tudo o que precisava na mala preta com a alça-corrente, e desci até lá abaixo.
- Não é assim o som do tiranossauro Rex – reclamou Sam, tirando das mãos de Harry o dinossauro carnívoro. – Eu mostro como se faz.
Rugiu o mais forte que conseguiu, enquanto manejava o animal.
- Oh, tens razão! – Disse Harry, fingindo estar maravilhado com a proeza de Sam. – E este aqui?
Apontou para o plateossauro.
- Esse é um dinossauro calmo, ele não roje assim tanto – respondeu Sam.
- Booboo, não sejas mentiroso. – Retorqui, aproximando-me deles. – Mais vale dizeres ao Harry porque não fazes o rugido.
Sam suspirou, triste.
- Eu não consigo fazê-lo – murmurou, escondendo a cara.

sábado, 24 de novembro de 2012

New Begginning - Capítulo 68



Quando acordei, horas depois, algo começou logo por preencher o meu pensamento. Doía saber que os rapazes iam embora em menos de oito dias. Oito míseros dias era o que eu tinha para aproveitar ao máximo. Ainda nesta altura do campeonato, as coisas pareciam estranhas; os One Direction eram meus amigos, e pior ainda, dois deles gostavam de mim. Não será esse o sonho de todas as fãs dele? Se ter um dos rapazes caidinho por ti é um sonho, imagino o que será ter dois.
Sorri para o vazio, sabendo que todas as Directioners mal faziam a ideia disso. Para elas, o Zayn só gostava da Perrie e o Louis da Eleanor.
Apesar de eu ter acordado diversas vezes durante o dia, não tive qualquer vontade em levantar-me e fazer algo o resto do dia. Sam por vezes chateava-me, exigindo que eu saísse da cama. Foi preciso gritar com ele para que percebesse que eu não ia sair dali. Os estoros continuaram fechados, fazendo com que os meus súbitos abrir de olhos passassem a ser um fechar de olhos. Tive diversos sonhos estranhos, mas o mais interessante – na minha opinião – foi um com Zayn.
Nem todos os pormenores estão claros, mas lembro-me de estar dentro dum carro que ia para o hospital, e eu encontrar-me nos bancos de trás, com Zayn. Sentia-me cansada, e presumivelmente íamos para o hospital por eu estar doente. A certa altura pousei a cabeça no ombro de Zayn; mas este sacudiu de imediato. Insisti por duas vezes mais, até que me fartei dos abanões dele, e pousei a cabeça no seu colo. Dessa vez, não fez nada, ficando a olhar para mim.
O sonho acabou por aí, quando eu acordei.
A minha interpretação deste sonho é bastante simples. Os abanões de Zayn em relação a eu pousar a cabeça no seu ombro, deverão ser uma alusão à minha aproximação dele e dos seus; ao início ele não gosta, ou apenas se defende, fazendo-me afastar. E depois eu pousar a cabeça no seu colo, arrisco-me a dizer que talvez seja o meu aviso de que confio nele, ao ponto de lhe contar a coisa mais secreta da minha vida.
No entanto, não sou especialista em interpretar sonhos, portanto, devo estar errada.
Por volta das três da tarde, Harry mandou mensagem.
Ainda não ter recebido um sinal de que estás viva, não é bom. Está tudo bem?
Suspirei, sabendo que devia ter pensado nele antes de decidir passar o dia na cama. E também sabia que se não lhe respondesse, Harry tinha a coragem de vir cá a casa.
Não te preocupes, Mr. Sexy. Acontece só que não me apetece sair de dentro da cama, por isso, vou passar aqui o dia.
Harry não me respondeu, o que eu estranhei. Porém, percebi o porquê assim que ele entrou de rompante no meu quarto, quarenta e cinco minutos depois.
- É que nem penses que passas o resto do dia enfiada na cama. – Avisou ele, subindo os estoros. A luz do dia feriu-me os olhos e eu gemi. – Agora deste em vampira, foi? – Perguntou retoricamente, abanando a cabeça.
- Não me apetece ter uma vida social, hoje. – Respondi. – Até porque para isso, estou sempre pendente de um de vocês. Já me sinto culpada por estarem sempre a dar-me boleia para aqui e para ali.
Suspirei, porque era verdade. Sentia-me mal por ter de os obrigar a levarem-me a casa todas as noites, ou todas as manhãs levarem-me para Londres. Harry olhou para o teto, exasperando o ar. Depois aproximou-se, levantou os lençóis e deitou-se ao meu lado.
- Ouve, Bella – pediu, levantando a minha cara com o dedo no queixo, para o encarar. – Eu até admito que não é usual estarmos sempre a dar boleia à maioria dos nossos amigos. Até porque eles não precisam. Mas tu precisas, e acredita, se nós não gostássemos de estar contigo, não teríamos sequer ter-te convidado para assistir à gravação da Little Things.
Harry sorriu e eu suspirei.
- É só que… – tentei encontrar as palavras certas para me justificar. – …eu não quero que vocês pensem que me estou a aproveitar. Porque eu juro por Deus que não estou.
Ele envolveu-me num abraço acanhado e eu conseguia ouvir o seu coração bater. Estava com um batimento acelerado. Durante imenso tempo ficámos assim, até que eu comecei a brincar com um dos seus caracóis.
- Se mexesses no cabelo do Zayn como estás a mexer no meu, acredita que não irias sobreviver muito tempo – murmurou ele, rindo baixinho.
Eu não respondi porque temia que Harry regiamente pensasse que eu alguma vez me tenha aproveitado deles. Ele suspirou pesarosamente.
- Se estivesses a aproveitar-te de qualquer um de nós, ou de efetivamente da banda toda, nunca nos terias apresentado a tua família. Porque, dessa maneira, estarias também a usá-la. – Fez uma pausa. – E eu acredito que tu nunca serias capaz de fazer isso ao teu irmão.

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

New Begginning - Capítulo 67



Estaria a mentir se dissesse que conseguiria resistir-lhe. A verdade é que o que eu mais desejava naquela hora, era sentir os seus lábios nos meus, ou talvez noutra zona do meu corpo. Eu desejava-o, mas quem me dera que fosse apenas algo físico. Estava tramada porque ia muito mais além do que apenas desejo físico ou atração meramente sexual.
Eu gostava dele. Ponto final.
- A Perrie tem sorte de ter alguém como tu – admiti.
O resto da noite foi calma. Zayn não tocou mais no assunto que envolvia o meu pai ou as queimaduras, até porque provavelmente já tinha percebido que a reação do Ryan perante o meu peito envolvia realmente queimaduras. A maior parte do tempo deixámo-nos estar calados e quietos, a ouvir o silêncio e a observar as estrelas que iam desaparecendo uma a uma. O sol raiou por volta das sete, mas quis prolongar mais aquele momento. Vimos o nascer do sol, vindo de Este, que com vagar enrubesceu-nos o rosto.
Pouco depois voltámos para dentro de minha casa.
- Espero que não tenhas arranjado problemas por teres ficado comigo – murmurei, abrindo a porta principal e deixando-o passar.
- Não te preocupes – disse ele, sorrindo. Passou a mão pela minha face, acariciando-me a maçã do rosto. – Se aquele Ryan volta a meter-se contigo…
- Zayn promete-me que não contas nada a ninguém sobre o que aconteceu. – Pedi-lhe, interrompendo o quer que ele fosse dizer. – Muito menos aos rapazes.
Ele suspirou de frustração. Resmungou qualquer coisa que eu não percebi e voltou a olhar para mim.
- Tudo bem. Mas tem cuidado; podes voltar a vê-lo em Londres, e a primeira coisa que eu quero que faças, quando isso acontecer, é afastares-te e não deixares que ele te veja.
Enquanto Zayn me aconselhava como fugir do rapaz que quase fizera pouco de mim na noite anterior, eu resfriava de frio, suplicando pela minha cama.
Ele aproximou-se perigosamente de mim, envolvendo-me num abraço que me causou um frenesim no estômago. Eu era pequena ao lado dele, e para o olhar, tive que levantar um pouco o rosto.
- Se as coisas fossem diferentes… - sussurrou, deixando-me completamente nervosa. – …não duvides que eu não hesitaria em ter-te.
Olhou uma última vez para mim e afastou-se com rapidez, quase correndo até ao carro.
Se as coisas fossem diferentes, não duvides que eu não hesitaria em ter-te. As palavras que saíram da boca dele não paravam de se repetir na minha cabeça. Tinha ele acabado de se declarar a mim? Não, não podia ser…
E, no entanto, ele fez aquilo. Deveras, talvez o problema estivesse em mim, talvez eu estava a negar uma coisa que podia ser tão clara como a água.
Zayn gostava de mim.
Só que continuava a parecer-me impossível. Ele é… o Zayn Malik e eu sou… eu.
Voltei para dentro de casa, fechando a porta com cuidado, mas a apressar-me para chegar à cama. Morria de sono, que começou a atacar por volta das seis. Assim que me deitei na cama, esperei alguns minutos, tendo a esperança de que ele mandasse mensagem. Mas não o fez e eu adormeci.

New Begginning - Capítulo 66



O campo encontrava-se em silêncio absoluto, nem mesmo as nossas respirações se ouviam. A certa altura pensei de novo no que acontecera no meu quarto.
Seria assim tão difícil meter na minha cabeça que não estava correto envolver-me com Zayn? Ainda por cima daquela maneira! O corpo dele junto ao meu, a sua boca entrelaçada na minha…
Bem reza o provérbio ‘O fruto proibido é o mais apetecido’. Zayn pertencia a outra pessoa, e com certeza que o seu coração estava nas mãos dela. Não competia a mim mudar isso. Eu não era ninguém para o fazer. Até porque Zayn – e eu punha as mãos no fogo por isso – não devia sentir nada por mim. Mesmo com tudo o que tenha acontecido entre nós é absolutamente impossível ele sentir algo por mim.
- Alguma vez te ocorreu quereres mudar algo no passado?
A voz dele pareceu ser como um choque que me legaram para acordar. A pergunta que fizera deixou-se repetir na minha memória.
- Todos os dias – sussurrei, virando a cara para ele. Zayn também me olhou, contudo, entendi que ele compreendia as minhas palavras.
- O que aconteceu?
Falar sobre o passado, era sempre algo difícil para mim. E angustiava-me só de pensar na matéria, porque podia tudo ter sido diferente. Se eu não tivesse pegado no rebuçado lá na loja da senhora Ermelinda, se eu não tivesse recusado comer o que estava no meu prato naquela noite quente de verão, se eu não tivesse sentado ao lado de Nuno no autocarro naquela sexta-feira, as coisas seriam bastante diferentes.
- Aconteceu imensa coisa que, eventualmente, nunca deveriam ter acontecido.
A minha voz, transformada num sussurro, notava-se bem que transmitia dor.
- Não tenhas medo de contar.
Fechei os olhos, sorrindo.
- Quem disse que eu tenho medo de contar o quer que seja? – Perguntei, o mais docemente possível.
Deixei o silêncio instalar-se, como que dando mais tempo para arranjar coragem de falar. Eu tinha vergonha de sequer pensar em falar no que acontecera, fosse o que fosse; ainda só havia uma única pessoa que sabia das minhas queimaduras. Nuno. Eu não era capaz de falar do que o meu pai fazia. Nem mesmo à minha mãe.
Todavia Zayn não era uma pessoa qualquer. E de certa maneira um dia isto haveria de acontecer.
- Eu tinha oito anos quando pela primeira e última vez roubei algo. – A minha voz estava rouca. Ele esperou. – Foi um rebuçado, numa loja perto da casa onde eu e os meus pais vivíamos.
Ouvi o som do seu corpo a arrastar-se mais junto a mim.
- O que aconteceu a seguir? – Perguntou.
Engoli em seco. Solucei duas vezes e ele aproximou-se mais. A sua mão procurou a minha, entrelaçou os dedos nos meus e apertou forte a minha mão.
Conta, Bella.
A reprodução da minha voz na minha mente foi o impulso que eu precisava.
- Eu e o meu pai saímos da loja e fomos a pé até casa. A meio do caminho, retirei o plástico que envolvia o rebuçado e pu-lo na boca. O meu pai viu, parou e obrigou-me a cuspir a goma. Depois olhou para mim e disse “Sabes o que é que acontece a quem tira do lugar o que não lhe pertence?”.
O meu peito doía de agonia e o meu coração ficou pesado com a recordação. Zayn apertou de novo a minha mão.
- Eu acenei que não, ficando com medo que ele me pudesse fazer algum mal. Mas não me respondeu. Pegou na minha mão (a esquerda) e puxou-me até casa. Quando chegámos, a minha mãe ainda não tinha vindo do trabalho. O meu pai levou-me até à cave.
Enquanto contava a Zayn o que tinha acontecido, as memórias encheram a minha mente. Talvez se só tivesse acontecido uma vez, aquilo não me incomodaria tanto assim.
- Nós sempre fomos uma família muito religiosa. A diferença que havia entre nós e as outras famílias católicas, era talvez o facto de que o meu pai me castigava de uma maneira bastante… diferente.
- Porque é que ele te castigava?
Os meus olhos continuavam a mirar o céu, até que uma lágrima rolou pelo meu rosto, e uma estrela cadente rasgou o manto negro.
- Oh, pede um desejo! – Murmurei para Zayn.
Olhei para ele. Fixou o meu olhar, muito seriamente. Ofereci um sorriso meio forçado, meio tímido.
- Coisas simples, como por exemplo quando os meus pais me chamavam e eu não ia ter com eles… ou como por exemplo, uma vez, quando eu parti um jarro de flores. Coisas que acontecem a qualquer um, mas que o meu pai não admitia que eu fizesse.
Zayn respirou fundo e apertou mais uma vez a minha mão.
- Como é que ele te castigava?
Instantaneamente dei uma gargalhada.
- Agora sim, Zayn, fizeste a pergunta certa.
O sorriso que se formou no meu rosto, por causa da gargalhada, desapareceu num ápice, quando me lembrei dele a queimar-me os dedos da mão. Quase que ainda conseguia sentir os dedos mergulharem na cera a ferver.
Fixei o olhar de Zayn, e ele viu mais uma lágrima cair. Aproximou-se e deu-me um beijo suave na testa. A minha voz tornou-se num sussurro.
- O meu pai aqueceu a cera, colocando-a dentro da panela. Lembro-me de começar a chorar, porque já conseguia imaginar o que ele ia fazer. Então ele disse uma coisa que eu nunca consegui esquecer, “As meninas que roubam rebuçados não recebem sobremesa ao jantar”. Depois agarrou na minha mão esquerda e mergulhou os meus dedos na cera.
O silêncio acomodou-se entre nós, e por momentos receei que Zayn tivesse adormecido. Mas ele levantou-se, puxando-me.
Olhou para mim durante um longo período de tempo; a seguir levantou a mão, ajeitando os cabelos bravios que se tinham soltado de dentro do meu capuz. Olhou para baixo, indo buscar a minha mão esquerda. Colocou-a à minha frente, acariciando a palma e os dedos, um por um.
Fechou os olhos e como se fosse um cavalheiro dos tempos antigos, ajoelhou-se e beijou a minha mão.