domingo, 29 de setembro de 2013

New Begginning - Capítulo 117


Assim que referiu o que Rosa dissera de mim, olhou-me fixamente.
- Nós somos do Algarve, mais precisamente de Olhão. E tu?
Trinquei a língua distraidamente, antes de responder.
- Lisboa.
Reparei que me observava atentamente, como se eu fosse um prémio a adquirir. Aproximei-me de Zayn para envolver a sua mão na minha.
- Já podemos saber qual é a tua surpresa? – Sussurrei-lhe.
Fitou-me ao de leve, antes de olhar o rio e envolver os seus braços na minha cintura, depositando um pequeno beijo na clavícula.
- A nossa boleia está a chegar. – Sussurrou.
Um arrepio desceu pelo meu corpo ao sentir os seus lábios quentes, e antes que eu conseguisse perguntar quem nos vinha buscar, um barco à nossa frente fez um barulho ensurdecedor. Zayn sorriu e eu olhei na mesma direção que ele.
A minha boca abriu de espanto; um clipper de mais de seis metros de comprimento e oito de altura navegava pelo rio Tamisa à nossa frente. Tinha três mastros e as velas brancas, dominadas pela cordoalha, rugiam violentamente contra o vento. O veleiro era magnífico.
- Aquela é a nossa boleia? – Perguntei, a voz a falhar-me.
Zayn apertou-me mais e o seu coração acelerou.
- Gostas? Achei que irias gostar de passear pelo rio Tamisa.
Suspirei.
- Isto é magnífico, Zayn! – Disse Margarida. – Nunca vi um veleiro tão esplêndido quanto este.
Eu não queria exagerar, mas a presença dela incomodava-me. A surpresa tinha sido para mim, Zayn apenas a ajustara também para Violeta. Margarida não tinha o direito de elogiar Zayn como se ele tivesse preparado a surpresa para ela. Cerrei os dentes.
Estás com ciúmes.
- Não estou – resmunguei num murmúrio para mim mesma.
- Gostaste? – Perguntou Zayn.
Os seus olhos tinham um brilho que já me era familiar. Ele devia ter puxado alguns cordelinhos para conseguir o quer que acontecesse nas próximas horas. Sorri-lhe em resposta, antes mesmo de o veleiro atrancar no cais de Westminster, e um homem barrigudo e barbudo nos felicitasse com um sorriso.
- Ahoy, marujos!
Claro que não é nenhum pirata, apenas um ator a encarnar a personagem do Capitão Sparrow. Convidou-nos a subir até à ré, onde nos falou um breve resumo da constituição do veleiro. Margarida traduzia para Violeta, indo com ela até à proa e meio-navio e mostrar-lhe as amuras, as velas e a textura da própria madeira do veleiro.
Talvez a rapariga dos cabelos em fogo não fosse assim tão intragável. Talvez eu tenha feito suposições demasiado cedo.
- E agora iremos zarpar até Greenwich, escumalhas – falou num tom engraçado, fazendo-me dar uma risadinha.
Zayn não me largara um segundo, mas notei uma atenção especial nos movimentos que ele próprio fazia; os puxões contra o corpo dele que já era costume acontecer sempre que me apanhava desprevenida, eram mais lentos (se é que isso fosse possível), e quando me abraçava por trás, os seus braços nunca ficavam em redor do meu peito ou mais acima. A certa altura quase lhe suplicava para que não estivesse tão cuidadoso.
Mas eu gostava de todo o cuidado que tinha comigo. Fazia-me sentir protegida. Tendo em conta todo o stress que passámos esta manhã, esperava de mim uma reação mais histérica. Talvez atirar-me ao rio e nadar o mais longe possível, cansar os braços e o corpo enquanto me deixava flutuar rio acima ou rio abaixo, consoante a corrente. Porém, tinha a certeza que se não fosse o meu bad boy inglês, facilmente cairia em negação e, certamente, em depressão.
Por isso, não o afastava de mim, e muito menos reclamava de tanto carinho vindo da parte dele.
- Hoje estás especialmente carinhoso. – Comentei, semicerrando os olhos. – Diria até lamechas demais.
Dávamos voltas e voltas na proa, sempre de mão dada. Parámos junto ao leme do capitão Sparrow e ele sorriu-nos. Zayn envolveu, mais uma vez, os seus braços na minha cintura. Borboletas voaram no meu ventre quando o senti encostado a mim. Deu-me um beijo na testa enquanto me afagava a bochecha com a sua mão. Fez-me corar.
- Gosto quando te faço corar, apenas fazendo isto – voltou a acariciar-me a bochecha e sorriu, vendo o mesmo resultado.
- Às vezes nem noto, confesso. É algo natural.
Fechei os olhos e abracei-me a ele.
- Fizeste-me perceber que não podemos garantir o que acontece no futuro. Não podemos tomar o dia de amanhã como garantido, é sempre uma incógnita o que pode acontecer.
O sussurro de Zayn era trémulo. Abri os olhos, fixando a sua maçã-de-adão.
- Estás doente, temos que encarar essa realidade. Tens cancro, possivelmente em ambos os seios. Vais ser tratada, irei cuidar de ti enquanto fizeres quimioterapia e as operações.
A voz dele era dura e consistente. Ele falava a sério.
- Vais ficar bem, Isabela. Eu vou cuidar de ti.
Escondi a cara no seu peito quando senti o meu rosto inundado de lágrimas quentes. Apertei-o o quanto pude, precisava do seu calor e toque. A sensação de que o podia perder a qualquer momento assustava-me cada vez mais.
- Eu amo-te, Zayn.

(ps: ESTOU DE VOLTA! <3)