nota da autora: escrevi as últimas frases deste capítulo ao som de Together We Will Live Forever de Clint Mansell. Se quiserem, podem ler enquanto ouvem esta música :)
Olhei para o relógio de parede. Estávamos no hospital. Apontava três
da tarde em ponto. Algumas horas antes as enfermeiras tinham chamado o Dr.
Peter e ele tinha vindo o mais depressa que pôde. Desde então ninguém me disse
exatamente o que se passava.
- Hey.
Niall tocou-me no ombro e ergui a cabeça para o ver. Trazia dois
copos de café na mão, entregando-me um.
- Obrigada.
Sentou-se ao meu lado, com uma expressão preocupada. Estava calmo,
ainda assim. Por outro lado, eu sentia-me quase à beira de outro ataque de nervos.
- Alguma notícia?
Suspirei.
- Não.
O café aqueceu-me as mãos. Bebi um pouco, saboreando o amargo sabor. Tal
como eu gostava.
- Ela vai ficar bem.
Fechei os olhos com força, esfregando a minha testa.
- Eu sei, mate. Eu sei – a minha
voz era um sussurro.
Bella estava nas urgências há demasiado tempo e eu não conseguia
sequer manter a atitude positiva que sempre tentei ter. A cirurgia dela tinha
corrido bem, nos dias a seguir a isso tínhamos todos feito o melhor para conseguir
manter a rotina normal. E tudo tinha corrido bem.
Agora... não havia respostas. A imagem na minha cabeça de ela a
perder os sentidos permanecia permanentemente. Porquê tanta espera? O que podem
ter estado a fazer durante três horas seguidas em que não pudessem dar-nos
respostas?
- Como está a mãe dela? – Perguntei a Niall, tentando substituir
aquela imagem pela de Bella a brincar com Sam, no quintal atrás de casa.
- Está com o Liam. Acho que ele está a tentar acalmá-la para que Sam
não se aperceba da gravidade da situação. Foram dar uma volta lá fora.
Senti um nó na garganta. A
gravidade da situação. Eu sabia que era grave, alguma coisa se passava, mas
não o queria admitir. Bebi mais do café.
Uma voz familiar chamou pelo meu nome e eu olhei para cima, avistando
Doniya e os meus pais. Os tacões de Doniya ecoaram no corredor. Levantei-me
para abraçar a minha irmã.
- Lamento imenso, maninho – disse-me ela ao ouvido.
Apertei-a nos meus braços, sentindo uma vontade enorme de chorar. Doniya
tinha sido a primeira pessoa a saber que eu amava Bella. Apesar de nunca terem
estado juntas – devido ao trabalho de Doniya – ela gostava de Bella e apoiava
totalmente a minha relação.
A voz da minha mãe soava aflita.
- O que aconteceu, Zayn? Ela está bem?
Larguei Doniya para receber o abraço forte da minha mãe. Depositou vários
beijos na minha testa e eu pude claramente ver a sua preocupação. O meu pai
também me abraçou, mas não disse nada.
- O médico ainda não nos deu notícias. Já se passaram três horas.
- Como assim ainda não deu notícias? – A minha mãe quase gritou. –
Eles têm de dar respostas!
- Olá, senhora Malik – cumprimentou Niall.
- Olá, meu querido.
A minha mãe deu um breve olhar a Niall, com um sorriso curto e depois
olhou de novo para mim.
- Onde está o médico? Ou alguma enfermeira.
- Mãe, não vale a pena. Eles avisam-nos assim que possível.
Ela sempre fora muito protetora em relação a mim e às minhas irmãs. E
assim que soube que Bella tinha cancro da mama, sentiu-se também responsável
por ela. Tinha falado com Laura durante dias sobre os tratamentos de Bella e
a minha mãe passou a maior parte dos dias, no início dos tratamentos, dividida
entre a nossa casa e a de Bella. Bella e a mãe não tinham como pagar todos os
tratamentos que precisava, então eu responsabilizei-me na totalidade
pelos custos.
Claro que Bella não reagiu bem a isso. Durante dois dias discutimos
fortemente sobre o assunto, mas eu nunca arredei o pé. Detestava discutir com
ela, principalmente quando eu sabia perfeitamente que a teimosia dela levava
sempre avante. Mas não desta vez.
Tentei não pensar sobre isso naquele momento.
E que nem a propósito, Dr. Peter vinha na nossa direção. A minha raiva
e o meu alívio colidiram.
- Dr. Peter! Diga-me que tem notícias. – Exigi, mal cheguei perto
dele.
Estávamos em frente às portas pesadas que separavam a sala de espera
de todos os outros quartos da Urgência. Uma médica aproximava-se, do outro lado
das portas, abrindo-as. Em três passos largos chegou até nós. Era loura e usava
o cabelo apanhado. A sua expressão era dura.
- Boa tarde a todos. É a sua família, Zayn? – Perguntou Peter.
- Sim.
- Eu peço desculpa todo este tempo sem notícias. – Começou por dizer.
Nenhum de nós falou e eu também não ia dizer que não havia problemas,
porque havia. Cerrei os dentes,
sentindo o meu coração a palpitar-me no peito. A expressão do doutor estava a
dar comigo em doido e eu fiz de tudo para parecer calmo. Como sempre o fiz.
- Mas... há notícias, senhor Zayn. Gostava de falar consigo em
privado.
- Pode dizer aqui mesmo – respondi demasiado rápido. A minha voz
tinha saído bruta.
Respirei fundo.
O Dr. olhou para mim de maneira impassível. Eu não tinha quaisquer
segredos sobre a situação, não para Niall e muito menos para os meus pais. No entanto,
ele fixou o meu olhar e eu tive a sensação que o quer que fosse, ele preferia
dizer-me em privado.
Suspirei e fiz um aceno de cabeça.
- Venha comigo – pediu.
Antes de passar pelas portas, olhei de novo para a minha família e
depois para Niall.
- Se eles vierem, avisa Laura que o doutor me chamou para falar em
privado.
Ele assentiu com a cabeça.
Segui a médica desconhecida e o Dr. Peter até um gabinete que já me
era familiar desde o início. O gabinete onde as notícias eram dadas. Normalmente
não eram boas.
- Eu quero saber como ela está, por favor diga-me alguma coisa.
- Ela está bem. Está estável – disse-me.
Um peso que carregava desde há horas tinha-se libertado do meu peito.
Era tudo o que eu precisava de ouvir, por agora.
- Pusemos a Bella a soro, como prevenção.
- Claro. O que se passa?
Ele olhou para mim e eu olhei para a mulher.
- Quem é a doutora? – Perguntei.
Ela lançou-me um sorriso amigável.
- O meu nome é Julia.
- Zayn Malik. Prazer.
Olhei de novo para Peter, confuso. Ele endireitou as costas enquanto
inspirou fundo.
- Zayn, nós fizemos alguns exames a Bella, como parte da rotina. O sangramento
que teve deveu-se ao nervosismo na hora em que estavam no centro de Londres, o
que depois originou o desmaio. Achámos ao início que era normal, um efeito
secundário.
Arqueei uma sobrancelha.
- Se acharam que era um efeito secundário depois da cirurgia,
explique-me as três horas de espera.
Ele e a Dr. Julia entreolharam-se.
- Por favor, expliquem-me o que se passa!
A minha voz subiu uma quarta acima. Estava à espera que me dissessem
que o cancro se tinha agravado, mas era improvável. Até eu sabia disso. Certo?
- Zayn – interviu a médica.
Os meus olhos estavam cravados nos olhos do Dr. Peter, claramente
demonstrando o meu desagrado perante toda a falta de profissionalismo naquilo. Mas
desviei o olhar, encontrando o rosto da Dr. Julia.
- Eu sou obstreta e o Dr. Peter chamou-me depois de obter os
resultados da Bella. Compreendo a sua frustração, mas os resultados apontaram
altos indícios da presença de hCG, uma hormona.
Mantive-me calado, não entendendo o que ela queria dizer com aquilo.
- Fiz testes ao sangue de Bella e depois fiz uma ecografia.
- Para quê? – Perguntei num sussurro.
A minha garganta estava seca. E os segundos em que a voz da médica
cessou, criaram um silêncio de absoluto entendimento.
-
A Bella está grávida.