Engoli em seco. A
cirurgia estava marcada para breve, segundo dizia Peter.
- Tentei ao
máximo evitar a cirurgia, Bella, mas o cancro tem vindo a agravar cada vez
mais. Tens tido efeitos secundários? Percebi as nódoas negras espalhadas nos
braços e na barriga.
Engoli em seco,
de novo.
- Sim. Vómitos e
náuseas e, por vezes, sangro do nariz.
Conseguia sentir
Harry ao meu lado, desconfortável, e provavelmente a conter-se para não gritar
comigo por lhes ter mentido. Não os queria preocupar, já bastava sentir-me
culpada por gastarem tanto tempo e energia comigo.
- Precisas do
máximo cuidado, Bella. Vemo-nos para a semana, vais receber uma carta em casa a
indicar a data da cirurgia e os cuidados a ter até lá. Tomem conta dela – disse
o doutor, desta vez dirigindo-se a Harry.
À medida que nos
dirigíamos para a saída do hospital, Harry falava ao telefone com Zayn.
- Ele já está à
porta, à nossa espera.
O meu coração
pulou de alegria.
Quando o vi,
encostado ao Bentley, envolto numa aura divina e extremamente atraente, soltei
um suspiro de alívio. Ele viu-me e veio a correr, com um sorriso nos lábios e o
meu beijo no canto da boca.
- Minha Bella – sussurrou ao meu ouvido,
beliscando-me o lóbulo.
Estremeci perante
a sensação.
- Já tinha
saudades tuas – murmurei contra o seu cabelo, em português.
- Eu sei disso –
respondeu ele, num português arranhado. Eu sorri.
Zayn pedira-me
há algum tempo atrás que eu lhe ensinasse certas palavras em português. Revirava
os olhos sempre que ele me pedia para escrever as palavras «Amo-te» e «Amor» e
todas outras lamechices, na minha língua. Depois encontrava-o a treinar o português com a minha mãe ou
Sam. Dava-me vontade de rir, pois para compensar, Zayn era o professor de
inglês privado da minha mãe. Mas ele adorava; eu sabia que se ele não tivesse
uma carreira musical bastante… caótica, ele seria professor de inglês.
- A minha mãe
mal pode esperar por te ver outra vez – informou-me, com um brilho no olhar.
- E eu! Podes
perguntar-lhe se faz outra vez aquela deliciosa tarte?
Zayn riu,
fazendo-me arrepiar dos pés à cabeça enquanto sentia o seu tremor no peito.
- Queres dizer a
Gypsy Tart?
Acenei que sim
freneticamente com a cabeça. Ele riu de novo.
- Entra lá no
carro, boba.
- Deixa-me
despedir do Harry.
Rodei os
calcanhares na direção do meu melhor amigo. Os olhos dele mostravam claramente
o quanto ele me estava a repreender silenciosamente.
- Vou com o Zayn
a casa dele. Mandas um beijinho ao Liam por mim?
Ele continuava a
olhar-me fixamente.
- Para lá com
isso, Harry. Por favor.
- Mentiste-me.
Suspirei.
- Sim. Não vos
queria preocupar, Harry.
- Deixas-nos
ainda mais preocupados se deixas as coisas agravarem-se desta forma! –
Repreendeu-me com a voz rouca.
Apoiei uma mão
no corrimão da entrada do hospital, sentindo as pernas cansadas e a pesarem.
- Não podes
continuar a esconder-nos os efeitos secundários e qualquer ocorrência fora do
normal. Por favor, Bella, até ponho as mãos no fogo em como não contaste ao
Zayn. Ele vai-se passar!
Trinquei o
lábio. Harry tinha razão, Zayn iria ficar com os cabelos em pé se soubesse que
eu andava a lidar sozinha com as náuseas e os sangramentos. Mas eu não gostava de
dar mais preocupações aos outros; principalmente a ele.
Ouvi Harry
soltar um grande suspiro.
- Toma conta de
ti, miúda.
Deu-me um beijo
no cimo da testa e depois afastou-se.
- Harry, espera
um pouco!
Aproximei-me dele
enquanto voltava o corpo na minha direção. Olhei de relance para Zayn,
confirmando que ele falava ao telemóvel. Provavelmente com a mãe.
- Tens notícias
dele? – Perguntei, fixando os olhos no rosto de Harry, evitando os seus olhos.
- Algumas. Ele está
bem.
- Ainda não
voltou, pois não?
Harry negou com
a cabeça.
- Tudo bem. Não lhe
digas nada, por favor.
Harry sabia ao
que eu me referia. Louis, bem como todos os meninos, soube logo do meu cancro. Continuava
magoado comigo, depois de toda a situação/confusão entre nós e Zayn. Eu própria
tentava esquecer isso, e parecia que tinha sido há anos e não há pouco mais de
seis meses. Algum tempo depois da minha radioterapia ter iniciado, Louis desaparecera para alto mar, com Eleanor,
num cruzeiro de luxo. Iria demorar algum tempo, mas eu não me importava. Tudo o
que eu queria era que eles estivessem bem e que ela nunca viesse a sofrer pelo
meu relacionamento (instável) com Louis.