- Estou a fazê-lo mal – sussurrou. Eu estava tão distraída a
conter-me para não gemer que nem percebi de imediato o que ele quis dizer.
- Hm?
- Vou-te meter na cama.
Só quando ele me largou no chão é que percebi o quão fraca eu tinha
ficado. Antes isto não acontecia, antes eu não me sentia fraca ou propensa a
cair no chão sempre que ele me agarra ou pousava. Eu sou forte com ele, não o contrário.
- Zayn – chamei-o quando os nossos peitos se afastaram por míseros
dez centímetros.
Afastou os cobertores da cama, deitando-me entre os lençóis frescos
que cheiravam a lavanda. Olhou para mim.
- Não te preocupes – disse-lhe com um sorriso. Eu sabia o que ele
estava a pensar. – Eu não desgostei, seu tonto.
Os seus dedos passeavam pelo meu rosto enquanto ele me observava.
Puxei-o, mas ele não se deitou sobre mim. Invés, colocou-se de lado,
observando-me incansavelmente. Passou do meu rosto para os meus seios, ainda
cobertos pelo soutien desportivo. Eu suspeitava que Zayn não o tenha tirado
pela condição lamentável em que me encontrava. Podia enganar-me redondamente,
mas eu preferia pensar que ele não me despia por completo para não cair na
tentação de me morder naquela zona ou de me apertar muito.
- Explica-me como é que eu tenho saudades tuas, mesmo tendo-te aqui e
agora à minha frente. Só para mim.
A sua voz era rouca, para não variar. Mas notei um travo de medo ali
escondido.
- Isso é porque eu estou a morrer aos poucos – sussurrei sem pensar.
Bolas! Fiz porcaria.
Ele ajeitou-se na cama, aproximou-se mais e passou o dedo pelo meu
queixo.
- Tu não estás a morrer.
Cerrei os dentes. Pensar naquilo não me fazia bem, vinha-me
completamente abaixo e odiava quando Zayn me via nesse estado. Esperava chegar
a casa e depois descarregar tudo na almofada e afogar os lençóis com as minhas
lágrimas.
- Mas tu já não és forte, Bella. E não há nenhum mal nisso –
continuou.
Cala-te Zayn. Por favor, cala-te.
- Eu sei que até mesmo contigo sou reservado em certos assuntos. Às
vezes falar não é o meu forte – deu um breve sorriso. – Mas ver-te contra a
parede... podias estar a gostar mas eu via-te em sofrimento, via-te a
esforçares-te para continuares de pé.
Traí-me quando senti o lábio tremer. Ele puxou-me contra si.
- Anda cá, pequena. – Ainda chegou a dizer.
Como é que em poucos minutos os cenários tinham mudado radicalmente?
Há dez minutos atrás ele fodia-me com toda a vontade que ambos tínhamos, e
agora estávamos deitados a lamentar o meu cancro? Isto não aconteceria se ele
estivesse com a Perrie ou noutro relacionamento qualquer.
Por mais que ele insistisse em dizer que me ama e que tomar conta de
mim era das suas prioridades máximas, eu continuava a pensar que ele preferia
outro cenário completamente diferente. Zayn estava preso ao compromisso que
tinha comigo e eu quase que metia as mãos no fogo em como se ele tivesse outra
hipótese, tudo entre nós teria um fim e ele fazia a vida dele sem mim.
Abracei-o mais, em silêncio.
Quem iria gostar de estar sempre a tomar conta da sua namorada que
tinha cancro da mama? Estar sempre com extremos cuidados por causa da
fragilidade do seu corpo, perder metade do seu tempo com consultas na Oncologia,
tratamentos de radioterapia, horários estipulados para a medicação e lidar com
lingerie feia e nada sexy. Isso não tinha nada a ver com Zayn. Ele era mais do
género não ter de se preocupar se um empurrão contra a parede faria estragos,
não se preocupar com hospitais ou medicação porque a Modest tratava de tudo e,
definitivamente, o seu estilo era muito à Vitoria’s Secret.
Eu não tinha nada a ver com a Vitoria’s Secret. Eu não tinha nada a
ver com todas aquelas raparigas que tinham o corpo perfeito, esguio, seios do
tamanho perfeito de um par de mãos masculinas, traseiro redondo e apelativo, e
coxas firmes e grossas. Eu? Não tinha nada a ver com elas.
Eu era baixa, e sinceramente, pãozinho sem sal. Tinha engordado, o
meu traseiro era demasiado empinado para fora e grande, os meus seios eram
tamanho 40B e as minhas coxas, sinceramente, nem sequer me atrevo a falar do
estado delas. E se olhar para a minha barriga fico logo com náuseas.
Enrosquei-me numa bola, escondendo-me dele.
- Tens frio? – Perguntou.
- Estou bem.
Continuei a envolver o meu corpo com os meus próprios braços e
pernas. Estava a começar a sentir vergonha de mim à frente dele, e bem tentava
evitar isso, mas já não havia nada a fazer. Os meus pensamentos traíram-me em
pouco mais de dez minutos.
Este dia não estava a correr como planeado.
- Não te escondas, Bella.
Eu não o queria ouvir. Senti a sua mão tentar chegar ao meu queixo,
mas afastei o rosto dela.
- Que estás a fazer, tola? – Perguntou.
Virei-me para o lado da janela, cobrindo-me com o lençol. Ele
suspirou. Passou por cima de mim, deitando-se ao meu lado. Não me mexi, mas
desviei o olhar para o céu desprovido de cor.
O meu dia estava condenado, provavelmente.