quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

New Begginning - Capítulo 120


Os raios de sol que ainda brilhavam debilmente no céu aqueceram-me a pele, provocando leves arrepios no corpo. Estava envolvida no casulo de Zayn, protegida do mundo e dos medos provocados por este. Pedi-lhe que ficássemos encostados ao Bentley durante uns minutos, apenas abraçados e em silêncio.  
A respiração de Zayn estava calma e estável, o que contrariava o ritmo da minha. Quantas vezes tinha batido o coração dele até decidirmos sair dali? Não sei, perdi a conta assim que me perdera em pensamentos. 
- Temos de ir, Bells. - disse ele, dando-me um beijo na testa. 
Procurei com urgência a sua mão, apertando-a com força mal a agarrara. Ele acariciou-me a palma com movimentos circulares. Admirei-o fugazmente; vestia calças pretas levemente descaídas e uma t-shirt amarrotada que apanhara no armário. E, como habitualmente, o casaco de cabedal que eu tanto adorava. 
Entrámos no hospital - fiz questão de ser com o pé direito, literalmente - e dirigimo-nos à Oncologia. Retirei a senha, memorizando o número e esperámos na sala de espera. Vez ou outra reparei que rapazes e raparigas mais jovens que nós reconheciam o Zayn. Irritava-me, mas não disse nada. 
Alguns quartos de hora depois chegou a minha vez. Não tinha a certeza se Zayn queria acompanhar-me, mas também não fiz questão de perguntar. Limitei-me a arrastá-lo comigo para onde quer que me mandassem. A enfermeira que nos atendeu ao balcão registou a minha entrada e mandou aguardar mais uma vez, no entanto, noutra sala diferente, indicando o caminho. 
Não esperámos nem dez minutos; o doutor Peter chamou-me com um sorriso. Perguntei se Zayn podia acompanhar-me, e mesmo que me dissesse que não, teria exigido que tal fosse possível. 
Sentia-me quente. Mal entrara no hospital sentira-me quente. Estava aterrorizada, não sabia o que fazer nem qual a melhor reação para tudo o que estava a acontecer. Há dias que a vontade de chorar brotava dentro de mim, mas não estava sozinha um minuto. Parecia que de repente toda a gente me tratava como se eu fosse uma bonequinha frágil de porcelana ou cerâmica. E não tinha coragem de chorar à frente de Zayn ou Harry, ou qualquer um dos outros rapazes (muito menos deles). 
- Vamos começar por registar a primeira sessão. - declarou o doutor, depois de alguma troca de palavras. - Hoje é dia um de dezembro... 
Dia da Restauração da Independência de Portugal, murmurei em pensamentos. Enquanto o doutor Peter lamuriava para si mesmo, sentia os olhos de Zayn sobre mim, preocupado. 
O primeiro tratamento estava marcado já há alguns dias, como nunca tinha reparado de que dia se tratava? 
Ultimamente andava obcecada com coincidências e preocupada em justificar tudo o que não fosse normal na minha rotina. Habitualmente, tudo o que estivesse ligado ao cancro. 
Independência de Portugal? Oh deuses do céu, eu deixarei de ser independente por causa desta doença. Agora era tudo claro na minha cabeça, perderei toda essa liberdade portuguesa, tudo o que faço sozinha... 
A realidade pesou-me nos ombros. Começava a duvidar do que afinal poderia continuar a fazer sozinha. O tratamento custar-me-ia todas as forças e encontro-me a tentar adivinhar se ainda conseguirei cozinhar para Zayn. Provavelmente não. 
Olhei para ele, procurando conforto. 
- Podemos começar? - perguntou o médico. Assenti afirmativamente com a cabeça. 
Retirei a sweater que Zayn me dera para vestir naquela manhã e depois o soutien desportivo (aconselhado por Marie) e o doutor Peter analisou-me mais uma vez. 
- Este é o procedimento normal, prefiro verificar de novo o estágio do cancro. 
Levou-me até à sala onde nos esperava uma equipa de médicos e enfermeiros de Oncologia e técnicos especializados em radioterapia. Começaram por me explicar que tipo de radioterapia eu iria fazer e que processo é que levava. Acabei por me surpreender ao saber que não levaria pouco mais de meia hora. Explicaram que a forma de tratamento é a Radioterapia Externa, feita por um aparelho que eu achei um pouco intimidante. Explicaram também que decidiram realizar este tratamento antes da cirurgia para tentar algo mais radical e tentar definir se o cancro - que se encontrava já muito avançado - reduzir-se-ia. Eu rezava para que sim. 
Senti-me estranhamente confortável durante todo o processo. Quando me despi novamente na sala de Radioterapia, em frente a toda a equipa médica, ninguém me olhou com repugnância ou choque. Aliás, agiram com a mais natural das normalidades. Admito que isso me deu mais ânimo e vontade de fazer o tratamento. 
Foi muito rápido, quando dei por mim encontrava-me deitada na maca e com ordens de me manter imóvel durante a aplicação da radiação. Tinha grande parte do seio esquerdo pintado a vermelho. A técnica de radioterapia explicou-me que eu ficaria sozinha na sala, mas que seria observada por câmaras no lado externo. 
- Não se vai embora, certo? - perguntei, ansiosa. Pensei em Zayn e onde poderia ele estar. 
- Claro que não, minha querida - disse ela com uma voz suave. - Mas não podemos ficar aqui contigo por causa da radiação. É inofensivo para ti, mas não para nós - explicou - Agora preciso que fiques bem quieta, mantém a respiração regular e fecha os olhos. 
Sorriu-me durante dois segundos e saiu da sala. Só conseguia ouvir o barulho da máquina de radioterapia a trabalhar. Tentei respirar com calma, mas os meus próprios pensamentos traíram-me e rapidamente sentia o coração a pulsar no peito. Estava medrosa, completamente apavorada. Nunca me sentira tão sozinha quanto naquela sala, sozinha e prestes a desabar no choro.