Ele olhou para mim, esperando.
- Para quem vocês dedicam as músicas?
Olhou para baixo, rindo-se. Depois fitou-me com um sorriso a rasgar a
cara.
- Nem sempre é sobre uma específica rapariga. – Fez uma pausa,
olhando para o lume. Encolheu os ombros – Nós criamos música para o mundo, para
as nossas fãs.
- Quem são os solteiros na banda? – Quis saber.
Ele riu e revirou os olhos.
- Estamos todos comprometidos.
- Ora aí está uma coisa que eu não sabia – dei uma risadinha.
Harry fez sinal para me aproximar dele. Assim o fiz e ele sussurrou:
- O Niall tem ciúmes da minha relação com o Louis.
A minha vontade era rir, mas consegui controlar. Alinhei no jogo.
- Mas ele não está junto com o Liam?
Ele abanou a cabeça, fechando os olhos durantes alguns segundos.
- O Niall está a trair o Liam com o Zayn. É muito triste.
Por momentos questionei-me se ele falava a verdade, já que me parecia
muito sério. Depois vi o lábio inferior dele a tremer e percebi que estava apenas
a gozar. Dei uma gargalhada sonora, tapando rapidamente a boca.
Harry olhou para o relógio de pulso e arregalou os olhos.
- Já são seis da manhã! – Passou a mão pela testa. – Parece que nem
vale a pena dormir, Bella. Queres ir tomar o pequeno-almoço comigo?
Expus um sorriso de orelha a orelha.
- Seria uma honra, Harry.
Nos episódios que se seguiram, Harry esperou por mim na sala,
enquanto eu tomava banho e me vestia. Neste terceiro dia em Londres, optei por
usar umas leggings pretas e uma
camisola de malha igualmente preta. Não me apeteceu usar qualquer bijutaria,
então nem sequer toquei na caixinha onde guardava tudo o que fosse colares,
anéis e pulseiras.
Suspirei em frente ao espelho da casa de banho, fitando o meu rosto
hediondo. Lavei a cara repetidamente com água fria para despertar do ligeiro
sono que me atacava. Agarrei no corretor de olheiras e depressa escondi as
manchas arroxeadas que assombravam os meus olhos cinzentos.
Meros cinco minutos depois, o meu rosto parecia mais composto.
Eu não costumava usar base. Não precisava, até porque nunca tinha
encontrado base para o meu tom de pele, cor de azeitona. Mirei-me durante
alguns segundos, distinguindo os meus lábios gretados, agora cobertos com uma
camada de batom cieiro que reconstituía a suavidade deles.
Pisquei os olhos umas quantas vezes e desci até à sala.
- Espera mais um pouco, não tenho dinheiro – expliquei.
Fui à mala da minha mãe, para tirar a carteira e encontrar duas notas
de vinte libras e três de dez. Tirei uma de vinte e outra de dez.
- Hey, espera – pediu Harry. Olhei para ele. – O que é que estás a
fazer?
- Relaxa, eu faço isto muitas vezes. E sim, a minha mãe sabe.
- Mas isso não está certo.
Suspirei.
- Eu aviso-a sempre que lhe tiro dinheiro. Deixo um bilhete a
explicar para o que é.
Harry arqueou uma sobrancelha.
- Ela não tem medo que lhe tires mais do que o suposto?
Abri a boca em O, expressando uma cara de espanto.
- Por quem me tomas, Harry Styles?
Ele apontou para as minhas mãos com um olhar repreendedor.
- Então não levo dinheiro e não tomo o pequeno-almoço contigo. –
Guardei o dinheiro.
Ele suspirou, fechando os olhos.
- Anda lá – disse-me.
- És muito honesto, tu –
sussurrei.
Procurei uma folha e uma caneta. Tal como em Portugal, a minha mãe guardava
um bloco de notas e algumas canetas na gaveta debaixo do lava-louças. Aquilo fez-me
perceber que apesar de termos vindo para Londres, grande parte dos nossos
costumes tinham permanecido iguais.
“Mãe, fui tomar o
pequeno-almoço com o Harry, o rapaz dos caracóis. Tirei vinte libras da tua
carteira para o pequeno-almoço. Não sei quando volto.”, Arranquei a pequena
folha e colei-a no frigorífico.