Zayn
Os meus olhos adaptaram-se à escuridão do seu quarto e eu consegui
finalmente ver-lhe as feições do rosto. Ela estava esgotada. Conseguia perceber
que o seu cabelo estava fraco e começava a cair, quando no meio da sua luta comigo várias madeixas de cabelo
tinham caído no chão. As suas lágrimas tinham secado nas bochechas e eu
conseguia ver a diferença do tom da pele. Os seus lábios estavam pálidos e
gretados, as suas pálpebras tremiam enquanto ela dormia. E eu consegui ver sem
dificuldade as olheiras que pesavam.
Quando os médicos me disseram que ela estava grávida, nada me passou
pela cabeça durante dois segundos. Depois o choque abateu-se sobre mim.
Senti-me completamente irresponsável e estúpido. Totalmente estúpido. O que ia
acontecer com a banda? Isto ia arruinar por completo todo o nosso trabalho até
aqui, todo o esforço que fizemos até chegar ao patamar onde estávamos. E tudo
por causa da minha irresponsabilidade. Naquele momento odiei-me. Os rapazes
nunca me perdoariam. E as fãs? Meu Deus, as fãs. Nem conseguia pensar nisso.
Liam foi o primeiro a saber. Ele era o mais calmo e racional do grupo
em situações extremas. E eu estava a enlouquecer naquele hospital. Despachei a
minha família para casa, inventando uma desculpa. Claro que Doniya não mordeu o
isco. Ela sabia que algo se passava, mas felizmente não me pressionou.
O doutor Peter tinha-me dito que só poderia vê-la dentro de algumas horas. Provavelmente ao final do dia. Mas
Bella, irreverente como sempre – e eu já devia ter desconfiado que quando ela
recebesse a notícia que não iria aceitar tão bem quanto eu. E quando a vi a espreitar pelas portas da Oncologia,
vi claramente o quanto ela estava assustada. Ela, pior que eu, não conseguiria
lidar com a situação sozinha. Os rapazes iriam compreender. Eles tinham de compreender que eu não podia
abandoná-la agora.
E depois fugiu do hospital. O meu coração disparou a mil quando a
perdi de vista. Porque é que ela fugiu?! Tinha medo do quê? Que eu a deixasse?
Ela conhecia-me melhor que isso.
Poucos minutos depois Elizabeth, a tia de Marie, avisara-nos que
Bella estava com ela e sã. Mas não era o suficiente. Eu tinha de vê-la. Tinha
de falar com ela. Queria certificar-me que ela estava bem. Niall foi buscá-la e
foi preciso Harry e Louis prenderem-me em casa. Eu teria pegado no carro e, no
estado em que estava, havia grandes probabilidades de provocar algum acidente.
Por volta das onze, Niall regressou e deu notícias. Preferi falar com Marie,
que me providenciou melhores informações do que Niall; claro.
- Lamento, Zayn. – disse ela, desanimada. – Tens de lhe dar tempo.
Ela chama-te quando estiver preparada.
Não me conformei com aquilo.
Fiz o que Marie me aconselhou, esperei três dias sem a pressionar. Consumi
cinco maços de tabaco nesses três dias, o triplo ou quadruplo do que eu consumo
usualmente. Só contei aos meus pais no terceiro dia.
- Zayn, o que se passa? – Perguntou a minha mãe quando os chamei para
a sala.
Ela estava preocupada e as rugas na sua testa evidenciavam-se mais
quando unia as sobrancelhas. O meu pai continuou calado e eu sabia que até eu
falar ele não iria dizer nada. Eles sentaram-se no sofá e eu sentei-me na
cadeira em frente deles. Isto não seria fácil. Nada mesmo. No que estava eu a
pensar? É claro que eles não iam aceitar de ânimo leve!
- Zayn? – A minha mãe chamou de novo.
Levantei o rosto para ela, encontrando os seus olhos brilhantes que
tentavam decifrar o que eu queria dizer.
Não havia volta a dar. E eu tinha de assumir responsabilidades.
- Isto não é fácil de dizer e não pensem que eu não me recrimino. Sou
o culpado no meio disto tudo.
A minha voz era solene e baixa. Olhei para ela e percebi que não
percebia o que eu queria dizer. Suspirei.
- A Bella – tentei dizer. – A Bella...
As palavras não me saíam. Sempre que eu tentava dizer que ela estava
grávida, parecia que algo me travava a voz. Agarrei no cabelo vezes sem conta,
frustrado com a situação. Olhava para a minha mãe e para o meu pai, à procura
das palavras que se perdiam na minha voz.
- Oh meu deus – ouvi a minha mãe.
Olhei para ela e vi o choque no seu rosto. Ela tinha deduzido.
- Oh meu deus – repetiu.
E repetiu.
E repetiu.
E repetiu.
A sua voz tornou-se esganiçada e eu atirei-me para trás na cadeira,
as lágrimas a brotarem dos meus olhos.
Tudo o que a minha mãe fez foi levar as mãos ao rosto enquanto as
palavras “Oh meu deus” e “Como é que isto aconteceu?” lhe jorravam
da boca. Abanei a cabeça e limpei as lágrimas.
- Desculpa, mãe. Foi uma irresponsabilidade enorme. Eu nem sequer
pensei e a culpa é inteiramente minha! A Bella não tem culpa, por favor, não a
culpem.
Ela não precisava de levar com os olhos acusadores da
minha família, isso iria destruí-la
ainda mais.
- É claro que a Bella também tem culpa. Têm os dois por igual – o meu
pai falou solenemente.
Eu olhei para ele, cerrando os dentes.
Esperei pelo repreendimento, mas não disseram mais nada. Durante
momentos nenhum de nós disse algo, apenas se ouvia a minha mãe choramingar e os
seus soluços. Depois o meu pai levantou-se e o meu corpo ficou hirto.
- És maior de idade. A decisão não é da tua mãe e muito menos minha. Lida
tu com a situação.
Virou costas e preparou-se para sair.
- Bruce, por favor, vamos falar disto. Em família. – Pediu a minha
mãe. Eu continuei quieto.
- Não há nada para falar, Trisha. Se ele é responsável para fazer sexo sem precaução, também é
responsável para assumir um filho.
Pegou nas chaves de casa e abriu a porta. Olhou mais uma vez para
trás, olhando-me friamente.
- Ou então ela aborta.
E saiu.
O meu pai não me voltara a falar desde aquela conversa.
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